2016s

    Livros lidos em 2016

    A partir desse ano quero começar uma tradição por aqui: fazer uma relação de livros lidos ao longo do ano, com alguns comentários sobre os títulos que mais me chamaram a atenção. Em 2016, a coisa foi mais ou menos assim:

    Diários de bicicleta
    David Byrne

    Escrevi especificamente sobre esse livro, aqui. Diários de Bicicleta foi uma das leituras mais prazerosas que fiz em muito tempo. David Byrne tem uma escrita cativante e a premissa de abordar tópicos como mobilidade e planejamento urbanos, cicloativismo, relacionados à atividade de músico do autor, me interessaram demais.

    100 discos do rock poriguar para escutar sem precisar morrer
    Alexandre Alves

    Tem sido empolgante ver as publicações de livros sobre a produção musical potiguar se tornarem cada vez mais frequentes, seja vindos da academia, como Nos Tempos do Blackout, ou mais despretenciosas, como o título celabrativo DoSol 10 anos. O 100 discos do rock potiguar traz textos de Alexandre Alves, Alexis Peixoto, Hugo Morais, Olga Costa, Jesuino André Oliveira e Mr. Moo, sobre discos considerados fundamentais para a história do rock do Rio Grande do Norte. Festival do Desconcerto, disco do SeuZé, lançado em 2005, está no livro.

    A arte de fazer um jornal diário
    Ricardo Noblat

    No meio da minha graduação em História pensei algumas vezes em mudar de curso. Jornalismo foi uma das áreas que cogitei algumas vezes para uma migração. Cheguei inclusive a cursar algumas disciplinas em Comunicação Social e a curiosidade e interesse sobre a área nunca se dissiparam de vez. Gostei da abordagem de Noblat, focada nos bastidores da profissão, passando por diferentes estágios da carreira do autor.

    Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização
    Franklin Foer

    Livro precioso que aborda a relação entre futebol e sociedade, em diferentes contextos. Da ligação entre o ludopedio e identidade nacional na antiga Iugoslávia, passando pela relações de gênero no Irã em torno do futebol, uma leitura essencial para quem se interessa minimamente pelo esporte bretão além das quatro linhas, ou mesmo como referência para discussões sobre globalização.

    Do que eu falo quando eu falo de corrida
    Haruki Murakami

    Meu debute na obra do romancista Haruki Murakami foi através de uma não-ficção, Do que eu falo quando eu falo de corrida é um ensaio em que autor japonês reflete sobre como se tornou um corredor dedicado e como a disciplina e método necessários para a participação numa maratona, são semelhantes às demandas para a atividade de escritor de romances. Fiquei obcecado pelo estilo de escrita de Murakami e agora estou avançando na leitura de 1Q84.

    Correr: o exercício, a cidade e o desafio da maratona
    Drauzio Varella

    Na tentativa vã de buscar inspiração para me tornar um corredor mais ativo, cheguei a esse livro inesperado de Drauzio Varella. Assim como Murakami, Drauzio tornou-se um corredor frequente já na vida adulta e maratonista, após os 50 anos. Ainda não completei os meus primeiros 5km, mas recomendo fortemente esse livro daquele que alguns chama de Dr. Áuzio.

    Dias de inferno na Síria
    Klester Cavalcanti

    Relato extasiante do jornalista que foi enviado à Síria como correspondente de guerra e acabou preso no país.

    Conecte-se ao que importa: um manual para a vida digital saudável
    Pedro Burgos

    O título menciona vida digital, mas o livro de Pedro Burgos traz reflexões essenciais para a vida real, ao discutir o impacto das redes sociais e dispositivos móveis nos indivíduos e nas sociedades.

    Jogador nº 1
    Ernest Cline

    Quando comecei a me dedicar à filmografia de Woody Allen, há 10 ou 12 anos, me questionei sobre as razões de eu me identificar com a maioria daqueles filmes. À época eu concluí que a explicação estava nas referências aleatórias - com Kant, psicanálise, antissemitismo, Marx, Freud, síndrome de impostor, que o diretor jogava nos diálogos, e que funcionavam como iscas para aquele estudante de História de então.

    De certa maneira, o Jogador nº 1 teve um efeito semelhante em mim. À despeito da premissa de ficção baseada em realidade virtual e videogames, o livro é um apanhado de referências a nerdices e cultura pop dos anos 1980 e 1990 para fisgar marmanjos com mais de 30 anos, saudosos da sociabilidade nas locadoras de videogame e afins. Pois o marmanjo aqui mordeu a isca mais uma vez.

    Master System: a história completa do grande console da Sega
    Editora Europa

    Em junho desse ano voltei a jogar videogame assiduamente após comprar um Xbox One e fiquei bem obsessivo em relação à temática, consumindo livros, podcasts e filmes sobre a mídia. Esse livro traz textos técnicos sobre o desenvolvimento do Master System e de alguns dos principais jogos, mas colocando sempre em perspectiva com o mercado, à época dominado pela Nintendo.

    Super Nintendo: a história completa no melhor videogame da Nintendo
    Editora Europa

    O livro traz informações técnicas sobre o Super Nintendo e alguns dos jogos mais reconhecidos.

    Meia-noite e vinte
    Daniel Galera

    Podcast: guia básico
    Leo Lopes

    Roberto Carlos em Detalhes
    Paulo Cesar de Araújo

    Sem Lugar para se esconder: Edward Snowden, a NSA e a espionagem do governo americano
    Glenn Greenwald

    Som do vinil: Clube da Esquina
    Entrevista a Charles Gavin

    Um brasileiro em Berlim
    João Ubaldo Ribeiro


    Como falei no início dessa postagem, pretendo fazer desses resmos de leitura uma tradição anual aqui no blog. Todos esses compilados estãrão reunidos aqui.

    Mais ouvidas em 2016

    Sem dúvidas as maiores descobertas musicais desse ano foram o Friendly Fire, de Sean Lennon, [A Mulher do Fim do Mundo](open.spotify.com/album/0I3… de Elza Soares e [Maravilhas da Vida Moderna](open.spotify.com/album/2Rd… do Dingo Bells.


    Daqui pra frente, anualmente, pretendo fazer esse levantamento das mais ouvidas aqui no blog. As estatísticas estarão reunidas nessa página.

    Da primeira vez, a gente nunca lembra


    Fã diante da obra

    Levei Nina para a sua primeira experiência no cinema. Uma reunião de episódios da Galinha Pintadinha.

    A forte impressão que ela teve diante da potência sonora e do tamanho da tela quase resultou em assombração, mas logo foi contornada com Pipoca Bokus e chocolate.

    Durante praticamente toda a sessão a sala de exibição foi exclusiva nossa. Somente passada quase uma hora de exibição, outra criança apareceu acompanhada dos pais.

    Impressões sobre como os chilenos lidam com o passado autoritário


    Estátua de Salvador Allende, no centro de Santiago (foto minha)

    Ainda em êxtase com a visita que fiz ontem ao Museu da Memória e dos Direitos Humanos, aqui em Santiago. O museu é focado na ditadura militar chilena, mas também denuncia situações de violação de direitos humanos em outras partes do mundo, incluindo o Brasil. O museu é imponente e extraordinário, e a mostra permanente sobre o regime militar no Chile é forte. Mas uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a velocidade com que aconteceram as comissões da verdade tanto no Chile quanto na Argentina.

    No primeiro, já aconteceram três comissões ou formas similares de apuração dos abusos da ditadura, a primeira ainda nos anos 1990. Na Argentina a Comissão aconteceu ainda na primeira metade dos anos 1980. Por aqui parece que os chilenos tratam a questão de uma forma razoavelmente apartidária, não importando quem esteja no poder.

    Reflexão importante num momento em que, no Brasil, o “Fla x Flu” político que vivemos tem levado muita gente ao absurdo de relativizar os abusos e violações da ditadura brasileira.

    Além do museu, a comissão chilena criou outros espaços de memória e monumentos espalhados pelo país para que a reflexão sobre o regime não pare.

    É o caso da foto desse post: uma escultura de Allende (deposto pelo golpe), que fica localizada no centro de Santiago.

    Diários de Bicicleta

    Nunca tive muita oportunidade para ouvir o Talking Head. Conheço há algum tempo as mais famosas da banda, como Psyco Killer e só.

    Durante muito tempo David Byrne também passou despercebido por mim. Foi só com os lançamentos de Tom Zé e Mutantes no exterior, feitos por ele, e através das constantes citações feitas por Caetano ao artista escocês, que passei a nutrir uma certa curiosidade pelo seu trabalho.

    Mas eis que o meu debute na obra do líder dos “Cabeças Pensantes” não se deu através de discos, mas de um livro.

    Tenho usado um Kindle há quase dois anos e a Amazon me enviou como sugestão de livro “Diários de Bicicleta”, cuja sinopse despertou em mim uma grande curiosidade, mas, à época, suficiente apenas para adicioná-lo à minha lista de desejos. Eis que em janeiro desse ano, com uma viagem de férias marcada para Santiago, enquanto buscava opções de leitura para levar comigo, voltei ao referido livro e decidi baixá-lo no meu e-reader. Que grata surpresa!

    Byrne usa bicicletas como principal meio de transporte desde os anos 1970, portanto bem antes de algumas cidades europeias hoje notabilizadas pelo esforço em desenvolver essa forma de mobilidade se destacarem. Ele faz questão de afirmar que não é um ativista da causa, mas os relatos apresentados no livro o contradizem. Tanto nos EUA, quanto na Europa, e mesmo na América do Sul (onde a discussão ainda engatinha, com exceção de algumas poucas cidades com Santiago e Bogotá) o escocês é frequentemente convidado a participar de congressos e outros eventos que estimulam o debate em torno da bicicleta como meio de transporte eficiente.

    O título do livro é sugestivo, mas incapaz de resumir o seu conteúdo. Cada capítulo trata da experiência do autor em alguma cidade específica, seja em turnês com o Talking Head, em carreira solo ou em outros compromissos profissionais. Mas, muito mais do que uma mera descrição da sua experiência ao andar de bicicleta em cada um desses lugares (ele costuma consigo levar uma bike dobrável a cada viagem), David Byrne acaba fazendo uma discussão interessante e mais ampla sobre mobilidade urbana.

    Não há como não remeter às recentes intervenções feitas em algumas cidades brasileiras, especialmente naquelas que sediaram partidas da Copa do Mundo. Desapropriações escandalosas e imorais; construção de novas pistas e viadutos com foco exclusivo na melhoria da mobilidade de automóveis e a completa indiferença quanto a um planejamento ao longo prazo do transporte coletivo e o amadurecimento de outras formas de transporte individual como a bicicleta.

    A prefeitura de Natal até esboçou um projeto de criação de ciclovias e ciclofaixas na cidade, mas pecou em diversos pontos. Os espaços demarcados para trânsito de bicicletas são isolados, desintegrados do sistema de ônibus e das ínfimas linhas de trem. Além disso faltou um projeto de educação voltado para os motoristas de ônibus e carros, pedestres e para os próprios ciclistas sobre o uso dessas ruas agora compartilhadas.

    De toda forma, pelo contato com o livro de Byrne e pela experiência em Santiago, no início do ano, aumenta por aqui a vontade de explorar mais as possibilidades do uso de bicicletas como meio de transporte.