Weblog Posting Month, 2024

Através dessa postagem de Robb Knight fiquei sabendo do #WeblogPoMo2024, proposto por Anne Greens:

What is it? Weblog Posting Month, 2024! If you use weblog.lol, or otherwise have a personal blog, you should absolutely participate in this month-long blog posting extravaganza!

Encarei o desafio e me esforçarei para postar o máximo possível aqui no blog ao longo do mês de maio, de preferência diariamente.

Acho que é um bom momento para registrar um pouco do meu processo de composição nos últimos tempos, que se intensificou um pouco com os singles que o SeuZé lançou em fevereiro e março e com o disco maior que pretendemos soltar ainda nesse ano.

Dia 1 do #WeblogPoMo2024

Ouvindo música com Nina

Ao longo das últimas semanas tenho ouvido bastante música pop, sobretudo Kate Perry, Miles Cyrus, Lady Gaga e Taylor Swift. A despeito de eu gostar genuinamente de algumas músicas das artistas mencionadas - é o caso de Flowers - as escolhas têm sido de Nina, que cada vez mais tem desenvolvido um gosto por ouvir música deliberadamente.

A maneira como ela pergunta, tão logo entra no carro, “posso colocar música?”, me remete automaticamente a quando eu começava a desenvolver o meu próprio gosto musical. Pelos idos de 1993 ou 1994 eu tinha um ritual matinal que contava com a boa vontade dos meus pais e consistia em 2 passos que se repetiram à exaustão ao longo de alguns bons meses.

  1. Enquanto me aprontava para ir à escola, dava play num VHS com o registro de um show do Asa de Águia que gravei a partir de uma transmissão da Band Natal.
  2. Já no carro, no caminho para o Salesiano, ouvia uma fita do Acústico Nirvana.

A cada vez que o cansaço pela repetição me deixa prestes a pedir para ela escolher outras músicas, lembro da maneira paciente com que a minhas obsessões da época foram acolhidas por painho e mainha.

Um adendo: em alguns dias eu e Nina combinamos de cada um escolher uma música ou um disco e irmos nos revezando. Nessas, sem pressão e de maneira relativamente espontânea, ela acaba escolhendo um álbum que conheceu através do que eu botei para tocar. Foi o caso de Another One, de Mac Demarco.

O caderninho de Natália Ginzburg

(…) Mantinha um caderninho no qual escrevia certos detalhes que eu ia descobrindo ou pequenas comparações ou episódios que me prometia inserir nos contos. Por exemplo, escrevia assim no caderninho: “Ele saía do banheiro arrastando atrás de si a faixa do roupão como uma longa cauda”; “Como fede a latrina desta casa — lhe disse a menina. Quando vou ao banheiro, não respiro nunca — acrescentou tristemente”; “Seus caracóis como cachos de uva”; “Cobertas vermelhas e pretas sobre a cama desfeita”; “A face pálida como uma batata descascada”. Porém descobri que dificilmente essas frases me serviam quando escrevia um conto.

O caderno se tornava uma espécie de museu de frases, todas cristalizadas e embalsamadas, muito dificilmente utilizáveis. Tentei infinitas vezes meter em algum conto as cobertas vermelhas e pretas ou os caracóis como cachos de uva, e jamais consegui. Portanto o caderninho não podia servir. Então compreendi que não existe poupança neste meu ofício. Se alguém pensa “este detalhe é bonito e não quero gastá-lo no conto que estou escrevendo agora, aqui já tem muita coisa bonita, vou poupá-lo para outro conto que escreverei”, então o detalhe se cristaliza dentro dele e perde toda serventia.>

Quando alguém escreve um conto, deve pôr dentro dele o melhor que possuiu e que viu, o melhor que recolheu da vida. E os detalhes se consomem e estragam quando os levamos conosco sem usá-los por muito tempo. Não somente os detalhes, mas tudo, todos os achados e todas as ideias.

Natália Ginzburg em “O meu ofício”, In: Pequenas virtudes.

Cantinho para leitura

Manton o responsável pelo Micro.blog, misto de rede social e serviço de hospedagem web, publicou recentemente uma breve postagem sobre o rearranjo que fez no seu espaço de leitura. Fiquei pensando em organizar algo semelhante para mim: um cantinho da casa com uma cadeira minimamente confortável, bem iluminado, arejado e, de preferência num cômodo mais silencioso do apartamento.

Qual não foi a minha surpresa ao saber que já disponho de um lugar com essas características, mas que eu ainda não associava a um espaço para leitura como o faço como a minha cama e o sofá da sala.

Cantinho para leitura que já me esperava aqui em casa.

Terminei agora de ler agora Primeira pessoa do singular, de Haruki Murakami. 📚

Livro de contos em que o autor japonês se assume como narrador e levanta a dúvida sobre o quão autobiográficas são as tramas narradas. Alguns temas presentes em obras anteriores retornam aqui: referências à música ocidental - sobretudo música clássica - e animais antropomorfizados, por exemplo.

A morte em Jorge Amado e a perda de um tio

Não, não era a mesma coisa a presença da morte lá na cidade da Bahia, rápida e banal nas rodas de um automóvel, nos leitos dos hospitais, nas páginas de desastres e crimes dos jornais. Era leviana e secundária, por vezes não merecia mais de duas linhas nas gazetas, desaparecendo em meio a tanta vida a cercá-la, a tanto ruído e luta, não havia lugar para ela nos corações apressados, dissolvia-se sua sombra nas luzes, e os risos não deixavam ouvir seu murmúrio. Seu podre bafo, como iriam senti-lo as mulheres envoltas em perfume, em cálidas vagas de desejo? Passava a mote despercebida, apenas executava sua tarefa e já desaparecia, não havia tempo a perder com ela em meio a tanta ânsia e pressa de viver.

“Fulano morreu”, anunciava-se, nos jornais, nos rádios, nas conversas, dizia-se “coitado!, pobre dele!, já foi tarde, era tão moço ainda…”, e não se falava mais nisso, havia muito assuntoa comentar, muito riso a rir, muita ambição a satisfazer, muita vida a viver.

Em Periperi era diferente: não era vida feita de trabalho e luta, de ambição e dificuldades, de amor e ódio, de esperança e despero, a que ali viviam ou vegetavam. Ali o tempo se alongava, nada o apressava, os acontecimentos duravam acontecendo. E o mais longo de todos era a morte, jamais banal e rápida, sempre fulgurante e demorada, apagando, com sua chegada, todas aparências de vida do lugar.

Jorge Amado, em Os Velhos Marinheiros ou o Capitão de Longo Curso

Escrevo de Tabatinga, onde estou desde ontem sem conseguir largar o Jorge Amado sobre o qual falei nos últimos posts.

Pouco após passar pelo trecho do livro citado acima, recebi a notícia de que o meu tio Cesar, irmão de mainha, faleceu. Ele já vinha bastante doente há mais de um ano e desde o fim de 2023 teve qualquer recuperação desacreditada pelos médicos.

Ainda que nós familiares não tenhamos dúvidas de que sua passagem foi um descanso dado o visível sofrimento físico que ele enfrentava cotidianamente, fica esse sentimento estranho de conformação com a ideia de que “ele já vinha sofrendo tanto”, como se morte dele não estivesse não estivesse acontecendo na Periperi que Jorge Amado representou em Os Velhos Marinheiros, mas na Salvador idealizada no livro.

Vai ver são apenas os vestígios ainda não expurgados da minha formação cristã, que lá do incosciente continuam cobrando de mim uma atitude expiatória diante da morte. De Tio César vão ficar as lembranças da maneira leve e inconsequente com que levava a vida, da convivência mais intensa nos anos de veraneio em Cotovelo, além de dois versos do hino do Fluminense, frase-síntese que entoava quando o pileque dava os primeiros sinais:

Sou tricolor de coração sou to time tantas vezes campeão

Descanse em paz, tio.

Jorge Amado a caminho

Após a tentativa frustrada de ontem de pegar emprestado um Jorge Amado na Biblioteca Câmara Cascudo, acabei de comprar Os velhos marinheiros, ou, O capitão-de-longo-curso. Com a previsão de chegada até sexta-feira, essa vai ser a minha leitura do fim de semana em Tabatinga.

Os quase 50 livros publicados pelo autor baiano dificultaram a escolha do título em que vou debutar na sua obra, mas após descobrir que Os Velhos Marinheiros está na lista dos favoritos da vida de Tom Crithlow, um dos meus escritores favoritos na web aberta, fiz a minha escolha.

O livro físico estava custando quase o dobro do ebook, o que por si só já justificaria a minha opção de leitura no Kindle, mas como Márcia manifestou o interesse em voltar à obra de Jorge Amado, peguei o impresso nessa edição da Companhia das Letras, para que compartilhemos com mais facilidade.

Primeiras impressões sobre a Biblioteca Câmara Cascudo

Interior da Biblioteca Câmara Cascudo Parte do acervo disponível para empréstimo na Biblioteca Câmara Cascudo

Todos temos lacunas em nossos repertórios de leitores, ouvintes de música ou amantes de filmes. Dentre as minhas, uma das que mais venho pensando em preencher é Jorge Amado, de quem até hoje nada li e cuja obra só tive acesso através das adaptações para telenovelas e cinema.

Hoje, no meu intervalo para almoço, saí decidido a começar o meu encontro com o escritor baiano.

Costumo almoçar em self-services nas redondezas da Secretaria Municipal de Educação. Um deles é o Pitéu, que fica na Rua Potengi, exatamente em frente à Biblioteca Câmara Cascudo. Desde que o equipamento foi reinaururado após uma reforma quase interminável, eu vinha cogitando uma visita. Hoje, enquanto deglutia a honesta carne de sol da nata oferecida pelo restaurante e observava a fachada da biblioteca, decidi atravessar a rua após pagar a conta.

Fui à biblioteca com três objetivos principais: fazer o meu cadastro para poder pegar livros emprestados, explorar rapidamente o prédio e o acervo e encontrar alguma obra de Jorge Amado. Pelas minhas experiências recentes em visitas a equipamentos culturais reinaugurados nos últimos anos pelo governo estadual - mais especificamente a Fortaleza dos Reis Magos e o Complexo Cultural da Rampa - eu não tinha grandes espectativas, portanto não me surpreendi com a falta de estrutura da biblioteca. Resumo nos tópicos abaixo:

  • Já se passaram mais de dois anos da reabertura e a Câmara Cascudo ainda não dispõe de um sistema digital para cadastro dos usuários e processamento dos empréstimos.
  • A estrutura de ar-condicionado central do prédio não funciona, de maneira que apenas a sala com o acervo já catalogado é climatizada.
  • O acervo disponível para empréstimo não foi renovado para a reabertura da biblioteca, além de não ter passado por nenhum procedimento de higienização. Sem exceção, todos os livros que manipulei estavam muito empoeirados, mesmo se considerando serem exemplarem revativamente antigos.

Explorei com mais atenção as seções de literatura nacional e informática. Nessa última, até pela pouca idade do tema, havia um acervo com livros mais bem conservados, ainda que mal higienizados. Cheguei a folhear e cogitei pegar emprestado um sobre web design, mas era uma edição do fim década de 1990 e as linguagens que o material parecia abordar não seriam úteis para a customização deste blog, a principal razão do meu interesse pela temática.

No corredor de literatura brasileira fui direto à letra A de Amado e no caminho até lá me deparei com a situação já mencionada: acervo desatualizado e, mais importante, mal higienizado. Antecipando-me aos que me acusarão de etarismo editorial, o meu incômodo não é exatamente com a data de publicação dos livros disponíveis. Por mais que eu tenha sentido falta de o acervo da biblioteca contemplar autores brasileiros e estrangeiros contemporâneos, a falta de higienização que tem insistido em destacar tem um manifestação tátil nessa biblioteca estadual. Uma rápida manueada em alguns livros aleatórios foi suficiente para deixar as minhas mãos bem empoeiradas e desencadear reações alérgicas.

Fui um frequentador assíduo da Biblioteca Central Zila Mamede durante a minha graduação e mestrado na UFRN e, tanto entre os livros relacionados nas ementas das disciplinas que cursei, quanto os de literatura e outras categorias que eu tomava emprestado sem obrigações acadêmicas, estavam exemplares com décadas de publicação e amarelados pela ação do tempo, mas ainda assim limpos sem a poeira que encontrei na Câmara Cascudo.

É lamentável que essa situação aconteça naquela que, excetuando-se a BCZM, é considerada a maior biblioteca do Rio Grande do Norte, após anos fechada para requalificação, localizada numa cidade do tamanho de Natal, beirando os 800.000 habitantes e capital de uma das unidades da federação. Esse sentimento fica ainda mais forte após experiências em bibliotecas de outras cidades, como foi o caso da que tive em Medellin no começo desse mês.

Dessa forma, meu debute na obra de Jorge Amado vai ser adiado por mais alguns dias. Vou buscar em algum sebo da cidade ou recorrer ao único que pode garantir uma leitura sem poeira: o Kindle.

Filmes vistos em 2023


Montagem automática gerada pelo Letterboxd com os pôsteres de todos os filmes que assisti em 2023

Em 2016 passei a registrar os filmes que assisto. Foi quando comecei a utilizar o Letterboxd, uma rede social/plataforma voltada para cinema. Além do fator social, de poder acompanhar o que as pessoas que você segue têm assistido e que impressões têm postado, o Letterboxd tem um sistema de estatísticas fantástico que gera dados a partir das películas que você registra por lá.

No meu year in review de 2023, a plataforma me avisa que assisti 38 filmes ao todo.

Foi um ano em que me dediquei à filmografia de Joachin Trier, do qual assisti a A Pior Pessoa do Mundo e Reprise. Também continuei a apresentar para Nina alguns clássicos que vi quando tinha uma idade próxima aos 10 anos que ela tem hoje. Vimos os dois primeiros Esqueceram de Mim e trilogia De Volta Para o Futuro.

Seguem abaixo algumas estatísticas geradas pelo Letterboxd para os filmes que assisti ao longo do ano.
Resumo 2023


Distribuição anual e semanal de filmes assistidos


Primeiro e último filmes assistidos em 2023


Filmes assistidos por país


Gêneros, países e idiomas


Diretores mais assistidos em 2023


Atores e artrizes mais assistidos em 2023


Desde 2016 venho reunindo aqui no blog as estatísticas que o Letterboxd gera a cada ano. Veja como foi nos anos anteriores: 2022, 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016.

Todos esses compilados anuais estão reunidos aqui.