O escritor como criança

E Sergio Pitol, de quem extraí a citação de Faulkner (a cultura é o palimpsesto e todos escrevemos sobre o que os outros já escreveram), acrescenta: Um romancista é um homem que ouve vozes, coisa que o assemelha a um demente." (…) creio que na verdade essa imaginação desenfreada nos torna mais parecidos com as crianças que com os lunáticos. Acho que todos os seres humanos entram na existência sem saber distinguir direito entre o real e o que é sonhado; de fato, a vida infantil é em boa parte imaginária. O processo de socialização, o que chamamos de educar, ou amadurecer, ou crescer, consiste precisamente em podar as florescências fantasiosas, fechar as portas do delírio, amputar nossa capacidade de sonhar acordados; e ai de quem não souber selar essa fissura com o outro lado, porque provavelmente será considerado um pobre doido. Pois bem, o romancista tem o privilégio de continuar sendo criança, de poder ser um doido, de manter contato com o informe.“O escritor é um ser que nunca chega a ficar adulto”, , diz Martin Amis em seu belo livro autobiográfico Experiência, e ele deve saber disso muito bem, porque tem todo o aspecto de um Peter Pan um tanto murcho que se nega teimosamente a envelhecer.

Lendo: A louca da casa de Rosa Montero 📚