Viagem Colômbia 2024 - Dia 06

Quase todas as viagens que fiz na vida foram com companhia. No últimos 10 anos, especificamente, junto de Márcia e Nina. A despeito de estar muito bem acompanhado das duas, sinto falta de não ter experiência solo em destinos fora de Natal e do Brasil. Assim, em quase todas as viagens em família tento criar algumas situações para estar sozinho mesmo que por poucas horas.

Normalmente essas escapulidas envolvem meras caminhadas ou idas a jogos de futebol. Foi o que fiz quando estive em Santiago pela primeira vez, em 2016. Consegui ir à um jogo da Universidad de Chile, no Estádio Nacional. O mesmo quando estive em Montevidéu, em 2017, e pude ver um jogo do Penharol contra o Liverpool daquela cidade, num pequeno e charmoso estádio de bairro.


Jogo da Universidad de Chile. Estádio Nacional de Santiago, janeiro de 2016.

No estádio Belvedere para assistir a Liverpool x Penharol. Montevidéu, julho de 2017

Com o futebol em recesso na Colômbia até a última semana de janeiro, as minhas investidas solo por Medellin têm consistido em idas a padarias e mercados no início da manhã.

Ontem, por exemplo, fui pelo segundo dia seguido à Padaria Dona Aída, especialmente em busca de um croissant que Nina gostou e tem sido um dos poucos alimentos que ela tem comido por aqui em razão de de estar bem ansiosa e canalizar esses sentimentos para a alimentação. Tem sido difícil lidar com isso no meio da viagem e sem as referências que ela tem quando em casa, mas aos poucos a pequena tem demonstrado estar mais tranquila.


Batendo o ponto diariamente na Panadería Doña Ainda para comprar o croissant de Nina

Nossa programação no dia de ontem teve como ponto principal a ida à Comuna 13, uma comunidade localizada numa das montanhas da cidade e que até um passado recente convivia com as consequências da atuação do narcotráfico, bem como das políticas de repressão ao crime que, sob o pretexto de limpeza da bandidagem, assassinou milhares de pessoas. Impossível não traçar paralelos com a maneira como as forças de segurança atuam nas áreas periféricas de diferentes cidades do Brasil.

Assim como a maior parte de Medellin, a Comuna 13 também se livrou da violência e caos resultantes da atuação do crime organizado e hoje consegue capitalizar esse feito, transformando as histórias do lugar e dos seus habitantes em atração turística.

Confesso que quando eu e Márcia começamos a considerar os lugares que gostaríamos de conhecer em Medelin e a Comuna 13 apareceu na lista, me questionei se essa pegada de ponto turístico muito visitado me interessaria na prática. A despeito das milhares de pessoas que exploravam as ruas apertadas - a geografia de lá lembra bastante a de comunidades do Rio de Janeiro, com moradias improvisadas subindo o morro e ruas estreitíssimas - a experiência foi muito marcante.

Contratamos um tour guiado no Get Your Guide, e aleatoriamente chegamos a Sebastian, um norteamericano com cerca de 30 anos, radicado em Medelin desde a infância, e que nos ofereceu uma visão bastante particular dessa área da cidade. A explicação que ele deu sobre as operações para pacificação da comuna foram um dos momentos mais marcantes da cidade até agora.


Vista de um dos mirantes da Comuna 13

À noite fomos conhecer o Lleras Park, uma área do bairro El Poblado que concentra inúmeros bares, cafés, boates e albergues. É uma região que claramente passou por um intenso processo de gentrificação e me fez lembrar bastante as ruas mais movimentadas de Pipa, numa proporção bem maior e sem o charme da praia do litoral Sul do Rio Grande do Norte. Quase optamos por nos hospedar nessa área da cidade, mas agora comemoro em silêncio por termos optado por Laurelles, uma região com bastante movimento, mas numa pegada mais residencial e aparentemente menos moldada para turista ver.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 24º
  • Temperatura máxima: 25º
  • Passos dados: 21568
  • Distância percorrida caminhando: 13,5 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 05, dia 04, dia 03, dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 05

Relativamente familiarizados com o Laurelles, nosso bairro, ontem foi dia de visitarmos o centro de Medellin. Saímos da nossa hospedagem com alguns pontos de interesse em mente, mas também acabamos por flanar sem muito rigor por essa região da cidade.

Pelo segundo dia seguido fizemos a maior parte dos deslocamentos mais longos através do metrô, que por aqui é de superfície e custa 3650 pesos colombianos, ou cerca de R$ 4,60 por passage, como eles chamam por aqui, diferentemente de Santiago e Buenos Aires, onde se referem a cada passagem como viaje.

Até agora tivemos a experiência de usar o metrô de Medellin em momentos com menos movimento e em outros perto dos horários de pico. Não sei se é em função de estarmos nos primeiros dias do ano, período de férias escolares e em que provavelmente muitos medellinenses devam sair da cidade, ou uma situação exclusiva das linhas A e B que temos usado, mas comparado com outras cidades que têm estrutura de trens urbanos que já visitei, achei o movimento deste meio de transporte relativamente tranquilo por aqui. Do apartamento onde estamos hospedados até uma das duas estações mais próximas - floresta e estádio - temos levado cerca de 25 minutos de caminhada. A Estação Estádio, como o nome sugere, leva ao Estadio Atanasio Girardot, o maior da cidade, onde jogam os dois clubes grandes daqui: o Atlético Nacional - aquele mesmo que jogaria a final da Sulamericana com a Chapecoense, quando o time brasileiro sofreu o acidente aéreo - e o Independiente. Pena que o futebol aqui na Colômbia esteja em recesso e eu não possa assistir a uma partida estando tão próximo a esta cancha, mas vou tentar fazer pelo menos a visita guiada ao museu.

Como eu vinha falando antes, o dia de ontem foi dedicado a explorar pontos de interesse do centro.

Começamos no Parque de los Pies Descalzos, um equipamento construído com o objetivo de servir como espaço destinado a momentos de desconexão para os funcionários públicos e outros trabalhadores da região nos intervalos dos seus trabalhos. Lá as pessoas são convidadas a ficarem literalmente descalças e caminharem pelo parque cujo chão é composto por pequenas pedras que, hora massageiam os pés, hora causam pequenas dores e, pouco além, molhar os membros inferiores na fonte que jorra direto do chão. Algumas pessoas, especialmente crianças - e dentre essas, Nina - vão além e molham todo o corpo.


Fachada externa da Biblioteca EPM

Continuando caminhando pelo Centro em direção ao Museu Antióquia, acabamos por parar na Biblioteca EPM, que naquele momento pensávamos se tratar da Espanã, a mais conhecida da cidade, mas enquanto escrevo esta postagem descubro que era uma voltada para ciências, indústria, tecnologia e meio ambiente. Explorei bem pouco o acervo, mas me chamou a atenção o quanto se trata de um espaço convidativo para quem passa pela rua e, sobretudo, como é um lugar que chama os seus usuários a permanecerem por lá. A biblioteca é repleta de sofares e cadeiras confortáveis e no tempo em que estive por lá foi possível observar vários medellinenses lendo jornais, usando as dezenas de computadores espalhados pelo prédio, ou simplesmente usando o espaço para descansar e cochilar, expandindo a noção de biblioteca para além de um repositório de livros.


Interior da biblioteca

Na sequência seguimos em direção ao Museu Antióquia e à Praça Botero. Esse caminho revelou um centro caótico com muito comércio de rua tomando as calçadas, não muito diferente das áreas centrais de muitas cidades brasileiras.

O Museu Antióquia foi uma grata surpresa desta viagem. Nas pesquisas que fiz sobre a cidade ao longo dos últimos meses, sabia que o equipamento abrigava um acervo considerável de artistas colombianos, sobretudo de Botero. Mas eu não tinha a dimensão de quanto do acervo do escultor estava exposto lá. São dezenas de pinturas, além das mais conhecidas esculturas em bronze, que estão disponíveis tanto no museu em questão, quanto na praça localizada em frente, e que leva o nome do mais notável artista plástico colombiano.


Mural pintado por Botero em 1960 para um banco de Medellin. Hoje está no Museu Antióquia.

Essa surra de Boteto causou em mim um impacto em mim como poucas vezes experimentei, me remetendo aos momentos em que vi originais de Van Gogh, no Met, no Museu d’Orsay e no MASP.

O Museu Antióquia também traz um uma série de obras mais recentes, sobretudo de fotografia, que lidam com o passado recente e doloroso da cidade e do país, marcardo pelo poder do narcotráfico, personalizado na figura de Pablo Escóbar. Nos dias anteriores, fiquei atento ao comércio de rua e a espaços de memória espalhados pela cidade como bustos e outras esculturas, para ter uma noção de como os medellinenses tem representado o legado nefasto de Escóbar e lidado com a memória em torno dele. Observei que muitas camisetas, broches e outros suvinires que costumam fisgar os turistas trazem serigrafias com retratos do traficante junto de frases de efeito como “Pláta ó Plomo".

Não sei ao certo em que nível frases como essas estavam no imaginário popular antes da série Narcos e o quanto esse fênomemo pop contribuiu para relativizar a imagem do homem mais celébre de Medellin, como parte dessa tendência de normalização de vilões que a cultura pop vem construindo ao longo das últimas décadas: de Tony Soprano a Walter White; do Coringa de Batman: a piada mortal ao John Marston de Red Dead Redemption 2.

Também fui muito impactado durante a visita ao Palácio da Cultura Rafael Uribe, que foi construído para ser sede do governo da Antióquia, província da qual Medellin é capital e que hoje funciona como uma instituição de fomento a cultura, além de um museu com exposições ecléticas de artistas colombianos, mas também com muitas alas dedicadas a explicar um pouco da própria história, bem como a da cidade.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 16º
  • Temperatura máxima: 26º
  • Passos dados: 26428
  • Distância percorrida caminhando: 5,7 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 04, dia 03, dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 04

Vista externa do Parque Explora, em Medellin

Ontem começamos o dia buscando um local para sacar alguns pesos colombianos. Por aqui estamos usando um cartão de débito da Wise, que cobra menos IOF nas transações, mas queremos ter um pouco de dinheiro em espécie para algumas situações na rua.

Saímos em busca de um caixa eletrônico do Banco de Bogotá, que o Google Maps disse estar há cerca de 20 minutos de caminhada do apartamento em que estamos. O percurso até lá revelou uma parte da cidade com ares mais comerciais do que a parte de Laurelles em que nos hospedamos. Percorremos a maior parte do caminho numa rua que reunia dezenas de lojas especializadas em acessórios para motos e ao chegar ao destino, descobrimos que o caixa eletrônico estava dentro de um pequeno shoping.

Com alguns poucos pesos nos bolsos caminhamos por cerca de 25 minutos em direção à estação de metrô onde tomaríamos um trem para os destinos programados para o dia: o Parque Explora e o Jardim Botânico, espaços separados por uma rua.

O Parque Explora é um enorme espaço interativo, nos moldes do Museu Interativo Mirador de Santiago. Ambos espaços são divulgados em blogs de viagem e outros textos pela web como boas opções para entretenimento infantil, mas nos dois casos também entreteram bastante a mim e a Márcia.


Márcia e Nina na área externa do Parque Explora

No caso do Explora, em Medellin, além das salas e exposições mais voltadas para uma ciência prática, com brinquedos e experimentos que exploram noções de física e até de subáreas como a acústica, há também estações voltadas para a música. É o caso instrumentos digitais e telas de toque que, por exemplo, apresentam conceitos de mixagem e explicam o papel que diferentes instrumentos tem numa banda.

Além disso pude conhecer exposições mais estáticas como a que apresenta a história da música gravada, passando pelos fonógrafos e gramophones no século XIX e chegando aos atuais serviços de streaming.

Outra atração com que brinquei foi um tela tátil que captura a imagem de quem está interagindo com o dispositivo e permite que a pessoa faça capas para hipotéticos álbuns de música de sua autoria. Foi quando tive a ideia de criar uma capa para um pretenso disco meu que nomeei como Medellín e que traria canções com impressões minhas sobre esses dias em que estarei pela cidade.

Após terminar a brincadeira, passei a encarar com seriedade esse projeto de começar um pequeno disco pela capa e dessacralizar a ideia de que um álbum de música precise ter uma motivação especial ou significativa. Infelizmente ainda não recebi o .jpg da capinha no email que cadastrei ao final da brincadeira. De toda forma fica o insigth para pensar em motivações menos ortodoxas como pontos de partida para futuras produções musicais minhas.


Club Colômbia, uma ótima lager que me lembrou a pernambucana Ekäut

Por lá também espaços com uma pegada de museu natural, como o lindo aquário espalhado por várias salas e o vivário que expõe dezenas de répteis e anfíbios da América Latina.

Durante praticamente todo o dia (ficamos por lá do meio da manhã até o fim da tarde) havia muitas crianças e adolescentes colombianos visitando o Parque Explora. Tive a impressão de que alguns grupos eram turistas dentro do próprio país. Pelas dimensões do equipamento cultural e dada a quantidade e qualidade das atividades disponíveis, o Parque Explora parece ser um espaço importante a ponto de por si só atrair turistas para a cidade, exercendo um papel semelhante ao que Inhotim e o Instituto Ricardo Brennand representam para os seus entornos.

É inevitável experimentar uma iniciativa desse porte e não ficar desejando que Natal e outras cidades do porte da capital potiguar pudessem dispor de estruturas semelhantes. Mas, tendo visitado algumas cidades maiores da América do Sul e mais espeficiamente do país, cada vez mais se consolida a impressão de que, na América Latina projetos da natureza do Parque Explora só parecem exequíveis do ponto de vista financeiro em cidades grandes como Medellin, São Paulo, Rio de Janeiro, ou nas capitais dos países dessa parte do continente americano.

Amanhã pretendemos visitar uma parte mais central de Medellin, onde fica o Museu da Antióquia e o Palácio da Cultura Rafael Uribe.

Algumas estatísticas do dia

  • Temperatura mínima: 20º
  • Temperatura máxima: 30º
  • Passos dados: 18457
  • Distância percorrida caminhando: 12,6 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 03, dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 03


Vista da minha janela pelos próximos cinco dias.

Escrevo já de Medellin, o nosso primeiro destino aqui na Colômbia. A chegada até aqui foi bem cansativa e envolveu um vôo de 6h entre BH e Bogotá, 4h de espera pela conexão que nos trouxe até aqui, além de uma diferença de fuso de 2h, que por menor que pareça, cobrou a conta no meio da noite.

Ainda conseguimos dar uma pequena explorada em Laurelles, bairro onde ficaremos pelos próximos 5 dias. A primeira impressão é se que parece ser relativamente movimentado para uma vizinhança predominantemente residencial, além de passar uma boa sensação de segurança. Fomos a um restaurante de massas aqui nas imediações e passamos em um supermercado também próximo.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 7º
  • Temperatura máxima: 22º
  • Passos dados: 10412
  • Distância percorrida caminhando: 6,7 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 02

Acabamos reféns da chuva e da preguiça e viramos o ano no quarto de um hotel assistindo De Volta Para o Futuro III, cuja trilogia eu e Márcia revimos ao longo do último mês para apresentar a Nina.


Savassi só nossa na manhã chuvosa de 1º de janeiro de 2024.

O dia amanheceu chuvoso mais uma vez e decidimos flanar pela Savassi, bairro em que nos hospedamos quando estivemos por aqui no ano passado. Acho que já comentei aqui neste blog sobre o gosto que tenho por revisitar lugares. O desejo de conhecer novos lugares em viagens é, como era de se esperar, bem forte, mas voltar aos cantos em que já estive antes traz uma sensação de familiaridade e, ao mesmo tempo, de possibilidade de lançar novos olhares sobre o que eu já tinha visto.

Um pouco mais tarde, rumamos ao zoológico da cidade, na Pampulha, na tentativa de entreter Nina, mas logo nos primeiros minutos começou um toró gigante que, mesmo temos encontrado algumas capas de chuvas daquelas descartáveis, nos encharcado os pés, tênis e calças. No momento em que escrevo estas linhas (18h), a preocupação é se os nossos calçados secarão a tempo do nosso vôo para Bogotá, já que às 4h30 da madrugada rumaremos em direção ao aeroporto de Confins.

Sobre o zoológico, do pouco que conseguimos ver dada a correria decorrente da chuvarada, pude ver pela primeira vez uma arara azul.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 7º
  • Temperatura máxima: 22º
  • Passos dados: 10412
  • Distância percorrida caminhando: 6,7 km

Estou tentando registrar algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi ontem: dia 01.

Todos esses pequenos relatos estarão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 01

Na sala de embarque do Aeroporto de Natal. Em breve embarcarei com Márcia e Nina rumo à Colômbia. Visitaremos Bogotá, Medellin e San André entre os dias 2 e 17 de janeiro. Antes passaremos dois dias em Belo Horizonte.

Ainda não definimos onde passaremos a virada do ano. Considerando a previsão de chuva de hoje para a capital mineira, é possível que fiquemos no quarto do hotel.


Tentarei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Aplicativos-padrão 2023

Recentemente vários blogs gringos que acompanho, como os de Carl Barenbrug e Manuel Moreale, tiveram posts com os aplicativos padrões dos seus escribas. Decidi entrar na brincadeira também.

  • 📧 Cliente de e-mail: Apple Mail
  • 📧 Servidor de e-mail: Google Workspace
  • 🗒 Notas: Apples Notes
  • 📝 Lista de tarefas: Things
  • 📷 Câmera: Apple Camera
  • 🏞 Gerenciamento de fotos: Apple Photos
  • 📅 Calendário: Apple Calendar
  • 💾 Armazenamento na nuvem: iCloud e One Drive
  • 🌐 RSS: NetNewsWire e Feedly
  • 📞 Contatos: Apple Contacts
  • 🌐 Navegador: Safari
  • 💬 Chat: WhatsApp e Telegram
  • 📖 Read It Later: Pocket
  • Processador de texto: Word e Google Docs
  • 💻 Planilhas: Numbers
  • 💻 Apresentações: Keynote e Canva
  • 🛒 Lista de compras: Bring!
  • 🧮 Orçamento e finanças pessoais: MoneyWiz
  • 🎧 Music: Apple Music e Marvis Pro
  • Podcasts: Overcast
  • 🔐 Gerenciamento de senhas: Apple Passwords

Zé Ibarra na Sede Cultural DoSol

fotos por Márcia Marinho

Ontem fui mais uma vez à Sede Cultural DoSol, dessa vez para assistir ao show solo de Zé Ibarra.

Toquei com a Banda Café em uma festa fechada no sábado à noite e no domingo pela manhã tive um ensaio com o SeuZé. Como resultado, passei o dia inteiro sonolento e indisposto, o que me levou a cogitar seriamente deixar de ir ao show para o qual já tinha ingressos. Enquanto hesitava, pensava que essa era uma apresentação que eu não poderia perder, visto que o artista em questão é alguém que tem um potencial enorme para virar um grande nome da música brasileira, certamente ocupando algum espaço na tradição da MPB, e essa oportunidade de vê-lo em um espaço intimista como o novo palco do DoSol, certamente vai ser difícil de se repertir novamente. Com um empurrão de Márcia, acabei indo.

Conheci Zé Ibarra através da Dônica, seu primeiro projeto, e passei a acompanhá-lo desde então, tanto no trabalho com o Bala Desejo, quanto nessa encarnação solo.

A base do repertório do show foi o disco recém-lançado, o Marquês 256, com outras releituras não contidas no álbum - e Lua Comanche, lançada com o Bala Desejo. Eu já tinha sido impactado pela técnica, tessitura e beleza do timbre vocal de Zé Ibarra, sobretudo ao assistir performances mais improvisadas em lives no Instagram, além dos próprios registros em disco pelos seus projetos, mas a impressão de ouvi-lo ao vivo, nesse formato voz em violão, foi muito mais marcante. Ibarra alia um domínio da voz e uma execução primorosa do violão como poucos o fazem na música brasileira atual. Contribuíram para isso, tanto a operação de som de Bráulio, técnico que tem viajado com o músico carioca nessa turnê, além da própria estrura de som da charmosa sala do DoSol, que mais uma vez se provou bem dimensionada e pensada para o espaço.

Quem acompanhou o Bala Desejo, projeto composto pelo próprio Ibarra, Júlia MestreDora Morelenbaum e Lucas Nunes, desde o início, ficou clara a inspiração da banda nos Doces Bárbaros. Da opção por figurinos andróginos, à apresentação despojada/acústica em forma de quarteto, muita coisa ali remetia ao grupo formado por Gal, Bethânia, Caetano e Gil no meio dos anos 1970. Essa reverência ao santíssimo quarteto baiano continua no trabalho solo de Zé, seja pela escolha do repertório de covers que, com exceção de Bethânia, contempla a todos os outros, seja quando, no show de ontem, Zé Ibarra declarou se inspirar diretamente em Gal ao lançar mão de registros agudos em seus arranjos vocais.

Mas o leque de referências do músico carioca vai bem além. Um aspecto relevante do show e também do disco de Ibarra, é o papel de apresentar a uma nova geração de ouvintes artistas sobre os quais atualmente se fala muito pouco e cujas músicas provavelmente só chegam a ouvidos um pouco mais curiosos que a média. Foi uma grata surpresa testemunhar boa parte do público presente estar com as letras de canções de canções de Paulo Diniz e Guilherme Lamonier - Vou-Me Embora e Vai Atrás da Vida que Ela te Espera - na ponta da língua. Há cerca de duas décadas os Los Hermanos fizeram algo semelhante ao resgatar e reapresentar uma parte da obra de Belchior. É um movimento que acontece na música brasileira de tempos em tempos, mas poucos artistas o fazem com tanta intencionalidade e sem fechar os olhos para os seus colegas de geração. Ao mesmo tempo em que segue esse caminho de diálogo com o passado da música brasileira, questionando e ressignificando a tradição da MPB, Zé também deixa espaço para apresentar os seus contemporâneos de composição e criação musical. Os repertórios do show e disco reservam espaço para canções de compositoras mais novas como Sofia Chablau e a já citada Dora Morenlenbau.

Valeu demais a ida ao DoSol para testemunhar pessoalmente esse show de início de carreira de um nome com potencial para alcançar patamares de mais prestígio e reconhecimento na música brasileira.

No ano passado escrevi sobre o papel do bom gosto no bloqueio criativo que acomete compositores, escritores e outros. Estar diante de um artista como Zé Ibarra, certamente é um gatilho para a sensação de “para quê continuar compondo e cantando se tudo o que pode ser criado já está ali muito mais bem feito do que eu posso fazer?” A resposta a essa pergunta já tinha sido dada naquele mesmo dia, mais cedo.

No ensaio mencionado no início do texto o SeuZé voltou a trabalhar, em estúdido, em novas composições após cerca de 10 anos e foi uma sensação muito boa ver as canções tomando forma e fazerem ressurgir aquele sentimento de que estamos trabalhando em algo que pode significar algo para quem nos ouve, bem como voltar a colocar o trabalho da banda - e os nossos individuais enquanto músicos e compositores - em movimento. Ainda vejo sentido em continuar compondo, gravando e fazendo shows.

Pequenas mudanças

Recentemente tenho feito algumas pequenas mudanças e implementações aqui no blog. Foi o caso do Blogroll, sobre o qual falei na última postagem. O botão para adicionar comentário foi deslocado para o final dos posts. Também venho tentando fazer com que pequenos trechos de músicas e podcasts oriundos do Spotify, que usei em algumas postagens, sejam exibidos corretamente na versão mobile do site.

Quando esse Música em Versão Beta é acessado a partir de um computador, o player com o clipe de áudio aparece da maneira correta:

Mas quando o acesso é a partir de um telefone celular, o espaço quue deveria exibir o tocador fica vazio:

Essas últimas intervenções que fiz por aqui me lembraram como ir realizando pequenas mudanças, aos poucos, por mais óbvio que pareça, é algo muito mais sustentável do que grandes alterações, que acabam impedindo que a principal razão de esse blog existir - ter textos publicados - aconteça.

Desde que voltei a me interessar por discussões sobre web aberta, IndieWeb e passei a acompanhar muitos blogs pessoais, um dos tópicos que mais gosto de acompanhar nos sites alheios é sobre como esses outros escritores pensam e estruturam os seus próprios sites. Também tenho gostado bastante de acompanhar discussões sobre o tímido retorno aos sites pessoais nesse contexto de fim das redes sociais(https://www.theatlantic.com/technology/archive/2022/11/twitter-facebook-social-media-decline/672074).

Aqui uma excelente reflexão de Matthias Ott, um desenvolvedor alemão a cujo site cheguei através dos buracos de minhoca que os só blogrolls e links para outras postagens, típicos dos blogs pessoais, possibilitam.

Acredito que refletir um pouco sobre os caminhos temáticos e estruturais que o meu site pessoal segue e virá a seguir, é algo que pretendo fazer mais frequentemente por aqui.

Blogroll

Criei uma nova sessão por aqui, o Blogroll, que era como nos referíamos, no início dos anos 2000, à listagem de sites recomendados por cada blogueiro.

Começo com alguns endereços que tenho lido mais frequentemente nos últimos anos e meses, mas pretendo ir atualizando à medida que outros forem entrando no meu radar. E essa renovação dos links deve realmente acontecer, visto que ao acessar um novo blog, uma nas primeiras coisas que faço é procurar a recomendação de outros sites pessoais.

O Blogroll desse Música em Versão Beta está acessível através do menu localizado no topo do site ou diretamente por aqui.

Procrastinação e como falho miseravelmente nos hacks mentais

Lendo essa postagem recente de Federico Viticci, do MacStories, me lembrei de como não consigo fazer esses hacks mentais. No post ele fala que a demanda de trabalho que tem parece grande e intimidadora, mas que após concluída a recompensa será os jogos de videogame que o esperam: Starfield e a DLC de Pokémon Scarlet.

Já tentei diversas vezes implementar essa estratégia de autorecompensa para ver se encaro mais objetivamente as demandas de trabalho diante das quais procrastino (incluindo aí me permitir separar na agenda momentos para compor sem sentimento de culpa) mas costumo antecipar o desfrute dos regalos a mim mesmo prometidos sem que a obrigação laboral tenha sido concluída.

Essa inclusive foi uma pauta frequente que debati com a minha ex-terapeuta, quando a mesma sugeria essa abordagem para lidar como a minha falta de foco resultado, provavelmente, de uma TDAH ainda não diagnosticada.

Reflito sobre isso nesse momento porque tenho lidado com uma situação semelhante. Preciso encarar duas demandas de trabalho que exigem uma dedicação maior, com etapas de pesquisa e estruturação de apresentações, mas a procastinação está forte como nunca. E as recompensas que eu tinha estabelecido para mim eram bem próximas das de Federico, incluindo o próprio Starfield e outros jogos. O que eu fiz? Assinei novamente o Game Pass para ter acesso aos videogames antes de ter concluído a minha demanda laboral. Entretanto, como geralmente acontece, o resultado é algo como uma paralisia que não me permite fazer nenhuma das coisas.

Como o prazo para uma das demandas se encerra na sexta desta semana, a saída que estou pensando é mesclar intervalos menores de recompensa, como a Técnica Pomodoro e, ao fim poder realmente escolher um jogo para explorar.

Poeta Chileno

Ontem à noite voltei à obra de Alejandro Zambra através de Poeta Chileno. Mais uma vez fisgado pelo realismo sem firulas da prosa do escritor santiaguino.

Em mais uma história ambientada em Santiago, me vi compreendendo uma série de referências a lugares, comidas e da capital do Chile, que pude experimentar nas duas vezes em que estive na cidade.

Da mesma forma, as pequenas piscadelas que Zambra dá aos leitores da sua geração (sou de 82, ele de 75), sobretudo ao citar músicas, bandas, e videogames mais universais e caros a quem cresceu nos anos 1980 e 1990 e estava minimamente atento à cultura pop daquele período, criam um vínculo que me parece bem mais natural do que em outras obras que lançam mão de referências generacionais, como Jogador Nº 1, de Ernest Cline.

Ler Alejandro Zambra mais uma vez tem feito pensar sobre um aspecto da minha produção artística que eventualmente retorna às minhas reflexões: a dualidade “local-universal".

São impressões semelhantes às que tenho tido ao imergir na obra de Haruki Murakami ao longo dos anos. Sem exceções, ao longo da sua produção de ficção, o autor japonês abusa do recurso a citações à cultura ocidental, sobretudo a música e compositores, ao passo que não abre mão de especificar detalhes, como nomes de ruas, bairros, estações de trem, modos de preparos de alimentos, específicos das cidades japonesas em que as suas histórias se desenrolam.

Em algumas composiões minhas mais recentes, venho conscientemente tentar lançar mão de referências tipicamente natalenses, como é o caso da “camisa do Alecrim” que o narrador da letra da canção Desapego menciona.

O verso mencionado começa por volta de 20s

De certa maneira, porém, me preocupo com a forma com que essas referências aparecem nas minhas músicas, de modo que possam fazer sentido para ouvintes que não compartilham das experiências de viver no lugar de onde escrevo.

Por outro lado, me interesso muito mais por essas pequenas inserções, nas minhas letras, de fragmentos da experiência do que é ser natalense, do que propriamente fazer da canção uma listagem de supostas qualidades da cidade ou do estado em que nasci e onde vivo.

Continuarei atento a como essa questão tem sido abordada na música que consumo e em outras expressões artísticas.

Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã

Recentemente assisti a Amor Platônico, na Apple TV+. A série se desenvolve a partir da amizade entre Sylvia (Rose Byrne) e Will (Seth Rogen). A despeito de diálogos previsíveis e sem muita criatividade em alguns momentos, a produção me prendeu pela forma como brinca com a expectativa em torno do imininente relacionamento amoroso entre as duas personagens principais.

Premissa semelhante aparece em Amanhã, Amanhã e Ainda Outro Amanhã (Tomorrow, Tomorrow and Tomorrow), livro de Gabrielle Zevin que terminei de ler ontem e tem me mantido extasiado. Chamo atenção para a semelhança com a premissa de Amor Platônico, mas a quebra de expectativa pelo romance que não acontece nem me parece a principal questão abordada na obra. Relacionamentos abusivos, mulher e trabalho, inclusão de pessoas com deficiência e preconceito étnico-racial são temáticas enfocadas pela autora, tendo como eixo principal uma história que gira em torno de videogames: Sam e Sadie, protagonistas da história se conhecem e tornam-se amigos a partir de uma circunstância que os leva a jogar videogames juntos em um hospital ao longo de alguns anos e, mais a frente, viram desenvolvedores dos seus próprios jogos.

Para uma geração que cresceu com videogames e computadores ao longo dos anos 1990, o livro é cheio de referências e piscadelas, mas de uma maneira mais orgânica e menos superficial do que outras obras como Jogador N°1, que também se estruturam em referências a videogames e outros elementos das cultura pop.

Grata surpresa que me fez buscar outras obras da autora: A vida do livreiro A. J. Fikry, outro título publicado por Gabrielle Zevin editado em português, já furou a fila por aqui como próximo a ser lido.

Tentando voltar à Hyrule

Em fevereiro escrevi sobre a empolgação de recomeçar a jogar The Legend of Zelda: Breath of The Wild. Eu estava recém retornando das férias e acreditava que conseguiria continuar a jogatina mesmo com a retomada da rotina de trabalho e outras ocupações. Acabou que pouco depois de publicar aquela postagem, não [retornei mais a Hyrule]. E, ainda que, obviamente, o tempo tenha se tornado mais escasso com o retorno às atividades laborais, esse não é o único motivo da minha negligência com Zelda.

Apesar de visualmente encantador e com mecânicas que me fazem querer viver no mesmo mundo que Link, o escopo do jogo é de certa forma intimidador, seja pelas dimensões do mundo aberto ou pelo próprio tamanho da campanha. O fato é que jogos que funcionam bem em sessões menores têm me seduzido mais nos últimos tempos.

Por exemplo: eu ainda não havia explorado as novas pistas que a Nintendo tem liberado aos poucos para o Mario Kart 8, e agora tenho tentado fechar todos o campeonatos com troféu de ouro em 200cc. Cada tentativa não chega a tomar 10 minutos e me parece bem mais exequível que uma sessão de Breath of The Wild.

Também tenho jogado bastante o Tetris original de Game Boy, na versão do Nintendo Switch Online, que eu já vinha explorando levemente desde o lançamento, e que tem me interessado mais desde que assisti ao filme homônimo.

O fato é que tenho negligenciado um dos apelos potenciais do Switch que é a portabilidade. De alguma maneira não tem parecido natural para mim jogar títulos de mais fôlego na forma portátil do console, resumindo essa experiência a jogos mais casuais como os já citados Mário Kart 8, Tetris e, também, Animal Crossing: New Horizons. Mas refletindo sobre isso, lembro que da primeira vez que joguei o último lançamento da franquia Legend of Zelda, revezei bastante entre jogar na TV e no modo portátil, e a experiência não foi lá tão ruim. Talvez a experiência de jogar na TV cobre um pedágio que está me afastando do jogo: ficar num ambiente mais desconfortável (no geral a sala do meu apartamento é um dos cômodos mais quentes do lar) e depender de o aparelho não estar sendo usado por Nina ou Márcia.

Na iminência do lançamento do Tears of the Kingdom me vejo querendo retornar para concluir o Breath of The Wild, para a partir daí poder me dedicar ao novo jogo. Talvez o caminho passe por priorizar o modo portátil do Nintendo Switch.

Segundas impressões sobre Halt and Catch Fire

Segunda tentativa de assistir a Hall And Catch Fire. A primeira vez foi há uns 2 ou 3 anos, quando a série estava no catálogo da HBO. À época vi apenas o episódio 1, mas não engrenei. Quando decidi retornar agora, descobri que já não está no catálogo de nenhum serviço de streaming. Recorri à locadora do Paulo Coelho e tenho assistido na TV da sala, via Plex.

Acabo de terminar o 1° episódio e dessa vez clicou pra mim. Chamou-me a atenção especialmente a direção de arte, com uma reconstrução convicente da primeira metade dos anos 1980.

Essas histórias dos bastidores do desenvolvimento da computação pessoal e da Internet comercial sempre me interessam.

A ver como vai se dar a construção do personagem Joe MacMillan, que numa aparentemente tentativa de intersecção entre Steve Jobs e Don Draper, pra mim resultou num blasé genérico.

Primeiras impressões sobre o Museu da Rampa

Meio por acaso, no último domingo fui pela primeira vez ao recém inaugurado Museu da Rampa. Após um brunch com Nina e Márcia no Pé de Cajú, íamos à Pinacoteca para ver as exposições atuais, mas lembrei da possibilidade de ir ao novo museu localizado nas Rocas e assim acabamos lá.


Área externa do Complexo Cultural Rampa

Em função do meu trabalho da formação continuada de professores de História da rede municipal de ensino, eu já estava querendo fazer uma visita ao equipamento.

A impressão geral foi positiva, mas destaco dois aspectos que me chamaram a atenção.

Primeiro, nas salas alusivas à participação de Natal na Segunda Guerra Mundial senti muita falta de mais particularidades do impacto da guerra no cotidiano da cidade. Com exceção de uma “sala do blackout”, que tenta recriar a experiência dos cortes de eletricidade como estratégia de defesa, que ocorriam em Natal à época do conflito, não há nada mais significativo a respeito dos desdobramentos para os natalenses da presença americana na cidade, durante a guerra. Além disso, há um foco muito grande nos intinerários de Roosevelt, da saída da sua comitiva dos EUA, até a chegada em Natal.

O segundo ponto diz respeito ao acervo, que se resume a dois uniformes militares e alguns poucos documentos escritos como jornais e livretos publicados na Itália à época da presença da FEB naquele país.

Também saí com a impressão de que o espaço físico do museu está superdimensionado em relação ao acervo disponível. Exemplo disso é uma sala intermediária em que está esposta uma exposição bastante genérica com a temática da paz, que se resume a cartazes com citações que passam por Bob Marley e John Lennon e chegam à Madre Tereza de Calcutá.

Espero que na permanência de um acervo limitado no museu, essa sala seja utilizada para exposições temporárias mais relevantes.

Exposição no hall de entrada


Área externa do Complexo Cultural Rampa

De volta à Hyrule

Desde o fim de janeiro venho jogando um novo save de The Legend Of Zelda Breath of The Wild e tem sido uma experiência incrível. Falo que estou em um novo save porque comecei no jogo em outubro de 2017, quando comprei o Nintendo Switch. Nessa primeira tentativa, dediquei mais de 120h, mas como as jogatinas foram espaçadas, acabei não indo até o fim, o que também se deve ao fato de àquelaépoca eu ter retomado o hobby dos videogames e estar com muitos jogos na fila.

Lembro que quando peguei o atual console da Nintendo, meio que tinha estabelecido que jogaria um jogo por vez e não sairia comprando outros até que terminasse ou desistisse do que estivesse jogando no momento. Contudo, pouco tempo depois, me vi imerso na cultura dos videogames, sobretudo na sua faceta de colecionismo, e passei a comprar muitos jogos e consoles, o que, obviamente teve um impacto imediato no tamanho do meu backlog e, sobretudo, na forma como eu encarava as gameplays. De maneira geral eu estava jogando muita coisa com pressa, no intuito de passar para o próximo jogo da fila, o que acabava gerando alguma ansiedade em mim, além de me tolher a possibilidade de descobrir bons aspectos de alguns games, que só uma experiência sem pressa e atropelos é capaz de proporcional.

Foi mais ou menos o que aconteceu quando joguei Super Mario Odyssey, entre julho e agosto de 2018. A pressão pelos outros jogos já comprados me fez acelerar a jogatina em direção ao mínimo necessário para terminar o game, além de fugir dos aspectos mais colecionistas da obra, como completar as Power Moons.

Ainda que vez ou outra eu balance ao ver algum amiibo ou tenha aquela vontade repentina de voltar a comprar e empilhar na estante cópias físicas de alguns jogos, no fim de 2021 me desfiz da pequena coleção que acabei construindo e passei a ter uma relação mais minimalista com os games. E foi nesse contexto que eu embarquei numa nova jogatina de Zelda BOTW. Tenho me empolgado bastante e, certamente pela qualidade do design de mundo que a Nintendo imprimiu ao jogo, a vontade atual é de imergir e passar a maior parte do tempo possível em Hyrule. Ao contrário da minha primeira incursão, dessa vez tenho me motivado a fazer todas as side quests, além de explorado com calma e minúcia os diferentes lugares para onde o jogo me leva.

Além disso, essa tem sido uma experiência mais compartilhada com Nina, que chega a se irritar quando por ventura eu começo uma sessão de jogatina sem que ela esteja junto. Ela também tem um jogado um save próprio, mas faz questão de estar comigo quando jogo no meu. Naquela primeira vez que joguei, Nina também se interessava, mas ainda desacostumada ao controle de câmera em jogos 3D, não conseguia ir muito além. Dessa vez, tem sido muito bacana presenciar como ela tem lidado com desenvoltura, desde a destreza para os comandos, até a tradução de diálogos.

General Junkie e as minhas primeiras composições em perspectiva


Capa do, até hoje, único disco do General Junkie

Recentemente estive ouvindo o clássico disco homônimo do General Junkie. Venho convivendo com esse álbum desde o seu lançamento, em 2002, mas o distanciamento tem me feito perceber algumas nuances até então ignoradas.

Apesar de lançado no início da primeira década dos anos 2000, o disco reuniu músicas que foram compostas ao longo dos anos 1990 e que carregavam marcas fortes daquele tempo, sobretudo no que diz respeito à mistura de ritmos e linguagens, tão próprias daquela década. Daí a comparação reiterada pela crítica musical local, do General com as bandas pernambucanas expoentes do Manguebeat, creio eu que sobretudo como consequência da proximidade dos natalenses com o Eddie, que chegou inclusive a gravar O Amargo", composição de Gustavo Lamartine.

Contudo, considerando as óbvias diferenças estéticas, acredito que é possível situar as composições do General Junkie num movimento (espontâneo e sem manifesto) nacional mais amplo da música independente brasileira daquele período, que se se permitia ir além de algumas convenções estéticas tão caras aos anos 1980, e que colocaria a banda potiguar na mesma linha evolutiva da música brasileira que também abrigaria nomes como os cariocas Acabou La Tequila e Mulheres que Dizem Sim.

O General Junkie foi muito competente em dialogar com aquela tendência que acontecia na música brasileira da época, partindo do local, assumindo o sotaque natalense, e no caso das músicas registradas no disco, captando o que acontecia fora do Brasil, especialmente a rítmica do Rage Against The Machine e a abordagem guitarrística de Tom Morello, conscientemente assimiladas pela banda, como Anderson Foca revelou no livro DoSol: 10 anos de música, e mais recentemente, no podcast que o DoSol lançou para celebrar os 20 anos de atividades enquanto combo cultural.

O fato é que Gustavo, Paulo e Marcelo lidaram com esse caldeirão de referências e chegaram a um disco cheio de personalidade e, mais importante, sem soar pastiche. Algo que eu certamente não consegui fazer com o República 5, a primeira banda em que toquei, nem com as primeiras composições que escrevi para o SeuZé.

O República 5 começou no final de 1999 e durou até o início de 2003, quando o SeuZé foi formado. Pelo menos entre o meu círculo de convivência, nesse período ainda era bastante forte o rescaldo cultural vindo dos anos 1990.

Quando escrevi as minhas primeiras músicas, acho que em 1998 ou 1999, eu e alguns amigos do Salesiano de Natal ouvíamos muito Nirvana, Engenheiros do Hawaii e Paralamas. Assim esses meus primeiros esforços de composição remetiam a essas bandas e de certa forma eram canções mais ortodoxas no sentido de serem mais diretas e não sugerirem misturas entre gêneros e ritmos. Em algumas dessas primeiras produções eu escrevia letra e música, mas era bem comum à época eu musicar letras de alguns colegas da escola, principalmente de Carlos Henrique com quem estudei até o terminarmos o Ensino Médio, em 2000.

Uma dessas parcerias deu origem à canção Quem Somos Nós, que originalmente foi pensada como um rock mais direto, bem na fonte dos Engenheiros, mas que quando trabalhada em ensaios pelo República 5, acabou ganhando uma pegada mais reggae, em grande parte por sugestão de Carlinhos, baterista da banda. Quem Somos Nós chegou a ser registrada numa demo que a minha primeira banda gravou no Estúdio Cantus, capitaneado por Helder Lima, à época baterista do Cantus do Mangue, banda de reggae seminal natalense. Essa gravação provavelmente foi feita em 2001 ou 2002, em dois canais. Posteriormente seria mixada por Rufino, um conhecido, numa sala do CEFET-RN.


O que me lembro de “Quem Somos Nós”, uma das minhas primeiras composições, em parceria com o amigo Carlos Henrique. Destaque para os trocadilhos gessingerianos

Carlinhos, que além de baterista do República, era meu vizinho, era bastante curioso e tinha uma pegada de ouvir música com ouvido de pesquisador. Lembro que mais ou menos nessa época, num dia em que estávamos voltando da saudosa Velvet Discos para Lagoa Nova, bairro em que morávamos, ele me falou algo como:

Para quem tem banda, um disco é como um livro

De fato, boa parte da tendência que desenvolvi nesses primeiros anos de bandas, de pensar em arranjos sempre considerando a possibilidade de misturar ritmos e linguagens, veio através de Carlinhos. Foi ele quem me apresentou os discos de Chico Science, o Guentando a ôia - do Mundo Livre - e mais a frente, em 2002, o Alugam-se Asas Para o Carnaval, do Jorge Cabeleira. Esse último exerceu um forte impacto em mim e influenciou decisivamente a estética que as primeiras composições do SeuZé seguiram, baseada numa mistura de rock, blues e baião.

Acontece que a leitura que fiz de todas essas e bandas e discos foi, em alguma medida, ingênua e literal, como um Sérgio Leone sem intencionalidade e ironia. Ainda gosto de algumas ideias do Festival do Desconcerto, do SeuZé, sobretudo considerando que só pudemos contar com um produtor experiente na mixagem do disco. Mas comparando hoje com o disco do General Junkie, o de estreia do SeuZé me soa ligeiramente pastiche e apressado no trato com as referências. E ao refletir sobre isso não o faço em tom de lamento, arrependimento ou juízo de valor, mas como uma observação que só o distanciamento temporal pode produzir.

Mastodon e ainda sobre trazer postagens antigas para cá

Desde o os últimos meses do ano passado tenho utilizado bastante o Mastodon como rede social. Segundo o print acima, criei um perfil na instância mastodon.social em 20 de fevereiro de 2020. Mas foi realmente com a bagunça no Twitter pós-Elon Musk que passei a ser mais assíduo por lá. Tem sido bem empolgante ver o aumento de usuários por la, o que pode ser mensurado pelo tempo que tenho levado para dar conta da minha timeline nas últimas semanas. Se antes desse movimento eu acessava o app oficial do Mastodonte no meu iPhone, normalmente uma vez ao dia, e lia todas as mensagens em menos de 10 minutos. Agora é algo que se eu repetir, vai me tomar perto de 1h.

O maior porém é que a maior parte dos perfis lusófonos/brasileiros que eu acompanho em outros lugares ainda não têm presença no Mastodonte, de forma que a maior parte da minha timeline é composta por estrangeiros, que em sua maioria são jornalistas de tecnologia e, mais especificamente, perfis que discutem ideias relativas a web aberta, indieweb e afins. Essas estão entre as temáticas que mais têm despertado a minha curiosidade desde pelo menos um ano, mas sinto falta de mais presença brasileira ou de pessoas mais próximas a mim por lá.

De toda forma, essa experiência tem evocado sensações e sentimentos que tive quando usei pelas primeiras vezes serviços como o mIRC, Orkut e as antigas plataformas de blogs do começo dos anos 2000. A ideia de estar desbravando algo novo através da Internet, com potencial para mudar de alguma maneira a forma como nos comunicamos.

Eis que ontem uma postagem de Anil Dash me chamou a atenção:

Com a diferença de que não estou cuidando de minucias como consertar links de cada post, Anil está envolvido num projeto semelhante ao que comentei no último texto que escrevi aqui no blog, de migrar todas as postagens de sites pessoais antigos meus para essa encarnação atual da qual escrevo. E nos comentários à mensagem dele, vários seguidores admitiam que estavam fazendo o mesmo. Pode parecer uma coisa ainda muito de nicho, mas é inegável que existe um movimento de retorno aos blogs pessoais que pode trazer novos sabores para essa Internet restrita às grandes redes sociais ao longo de, pelo menos, os últimos dez ou quinze anos.

Em tempo: concluí a migração das postagens dos meus blogs antigos que estavam acessíveis via Internet Archive. Conforme adiantei no último post, muita coisa que reencontrei não diz mais respeito ao que penso e, certamente, seria passível de cancelamento caso fosse escrito hoje em dia, seja por vieses racistas, machistas, misóginos, ou pela natureza dos meus interesses à época. Reencontrar com esses textos tem me feito cada vez mais confirmar a impressão de que o Felipe de 20, 20 e poucos anos, era muito mais próximo da sua versão adolescente/inconsequente, do que de uma versão adulta. De toda forma, mesmo assim quero ter esse histórico reunido no lugar em que escrevo atualmente.

Os próximos passos desse trabalho arqueológico serão organizar as tags e categorias e, caso eu tenha a paciência de Anil Dash, organizar a integridade dos links de todo o meu histórico de postagens.

Renascimento dos blogs e um pouco de Arqueologia

2022 foi sem dúvidas um dos anos em que mais consumi conteúdo da web aberta, sobretudo blogs hospedados em servidores pessoais. Desde a primeira onda de weblogs, lá no início dos anos 2000, sempre nutri uma curiosidade e interesse sobre a possibilidade de publicar e ler impressões pessoais sobre o cotidiano e as pequenas obsessões individuais tão caras à blogosfera.

Após ter abandonado o meu perfil no Facebook (mantenho apenas uma página destinada a divulgar os meus trabalhos na música) e cada vez mais ter menos saco para ser ativo em redes como o Twitter e Instagram, recorrer à web aberta me pareceu um caminho legal de percorrer. Para acompanhar as dezenas de blogs pessoais pelos quais me interesso, uso o NetNewsWire, um agregador de feeds RSS que faz o mesmo papel do finado e saudoso Google Reader. Abaixo a lista de sites pessoais que estão no meu radar:

De fato essa sensação geral de saturação das redes sociais como conhecemos e, sobretudo, o caos que se instalou em torno do Twitter pós aquisição de Elon Musk, deu uma nova sobrevida aos blogs, a ponto de ser frequente o espaço em alguns veículos grandes como o The Verge, para textos que falam sobre o renascimento dos blogs.

Acompanhar de perto esse movimento teve efeito sobre esse espaço em que escrevo. 2022 foi ano em que mais escrevi por aqui desde que botei o Música em Versão Beta no ar. Também contribuiu para isso o fato de eu ter conhecido as ideias por trás da Indie Web e ter me convencido da importância de ter o meu espaço pessoal na Internet e ser dono do conteúdo que produzo.

Além de passar a postar com mais frequência, também me inspirei a organizar a parte estrutural deste blog. Tenho feito pequenos ajustes de design, além de despender um esforço arqueológico de trazer para cá postagens de outros blogs antigos que mantive no passado e mesmo de redes sociais como o Facebook. Nessa tarefa de lidar com o passado, corre-se o risco de reler a quantidade de besteira que um jovem adulto de 20 poucos anos era capaz de produzir com um teclado à mão e uma conexão discada à disposição. Muito do que escrevi nesses antigos espaços é bastante diferente da minha visão de mundo atual, e certamente seria motivo para o meu cancelamento em tempos atuais, mas estou fazendo questão de trazer para o histórico deste blog, justamente para que eu possa acompanhar esse caminho. Por outro lado, têm sido muito bacana reencontrar outros registros do início da minha trajetória como músico e compositor. Aqui, por exemplo, escrevo sobre a minha saída do República 5 e sobre a fundação do projeto que viria a ser o SeuZé. É um texto que foi escrito em 15 de setembro de 2003 e que, a despeito de estar cheio de erros gramaticais e ter sido produzido num estilo de escrita que hoje estranho, tem a sua importância de ser registrado.

Através do incrível WayBack Machine consegui resgatar o histórico dos Papo Passado e Cabaret de Luxo, blogs que mantive entre 2003 e 2005. Esses sites foram hospedados em servidores gratuitos de blogs que existiam à época, como o Blig, Weblogger e Blogspot. Só não consegui encontrar registros de um tempo em que o Papo Passado funcionava no Blogger.


Papo Passado, blog que mantive entre 2003 e 2004. Versão hospedada no Weblogger.


Papo Passado, blog que mantive entre 2003 e 2004. Versão hospedada no Blig

Teago Oliveira na nova sala do DoSol


Esqueci de fazer foto do show. Esse registro desfocado e distorcido é um print de um vídeo que fiz.

Ontem fui à nova sede do DoSol para ver o show solo de Teago Oliveira. Venho acompanhando o trabalho dele enquanto compositor principalmente através da Maglore, banda que vem se tornando uma das mais sólidas e interessantes do país nos últimos tempos. A quantidade de grandes canções que eles conseguiram reunir nos últimos quatro discos - os que mais ouvi - é um caso raro no cancioneiro nacional, e fosse em outro momento do mercado fonográfico, certamente colocaria os baianos na mesma prateleira de gente como Los Hermanos e Legião Urbana.

O primeiro contato que tive com Teago e com a Maglore foi em 2011 ou 2012, quando eles vieram pela primeira vez a Natal, num show organizado pela antiga LoL Produções, de Thalys Belchior, em que o SeuZé tocou como banda de abertura. De lá pra cá eles vieram lançando discos novos com uma boa frequência, se mudaram para São Paulo e se tornaram uma das bandas mais relevantes do Brasil na atualidade.

O show de Teago reune músicas do disco solo Boa Sorte, músicas lançadas pela Maglore e algumas versões para outros artistas feitas pelo compositor baiano, como a linda releitura para Exotérico, de Gil.

Não foi intencional, mas em alguns momentos me vi assistindo ao show do ponto de vista de compositor. É muito interessante observar como em algumas composições mais recentes, Teago explora a tessitura gigante da sua voz e usa isso como recurso para criar dinâmicas e climas para muitas das suas músicas. É o caso de eles, que foi lançada em 2022 no disco V", da Maglore, que começa com um registro de voz mais grave e quando chega ao momento de dinâmica mais alta com o resto da banda, a voz passa para a região mais aguda, que Teago domina muito bem e imprime um timbre seguro, potente e delicado. Isso causa um impacto muito grande na versão gravada em estúdio, mas em um show solo tem um efeito ainda mais poderoso ao criar climas e nuances para uma apresentação que por natureza não tem tantas possibilidades de texturas e dinâmicas quanto um show com banda inteira. De certa forma me remete a outros cantautores que formatam as suas composições para ser executadas por apenas uma pessoa e também brincam bastante com essa relação entre a dinâmica e a tessitura da voz. Glenn Hansard, que ganhou o Óscar de Melhor Canção, em 2008, com Falling Slowly, composta em parceria com Markéta Irglová, fez muito isso em composições lançadas nos seus discos-solo.

Voltando ao show de Teago, outra coisa que me chamou atenção pela forma como ele explora é o uso do reverb, sobretudo na guitarra, para preencher espaços e criar dinâmicas. Algo que só tem efeito prático com uma boa sonorização, o que a nova sede cultural do DoSol conseguiu oferecer já nesses primeiros meses de funcionamento. O som estava impecável e a nova sala para shows é uma conquista gigante para a cidade porque proporciona um formato de show que até então só era possível de forma mais improvisada.

Em 2015 eu fui ao show do Apanhador Só, pela turnê Na Sala de Estar, que a banda gaúcha viabilizou através de financiamento coletivo. Com o projeto no Catarse eles conseguiram comprar um carro e viajaram pelo país inteiro se apresentando em espaços como salas de estar das casas de fãs, nas cidades por onde passavam. Ao final da programação de apresentações a banda venderia o carro e investiria a grana na gravação de um próximo álbum. A princípio parecia uma ideia insustentável do ponto de vista do negócio, pois essas apresentações mais “domésticas” em tese não renderiam boas bilheterias, mas para bandas como o Apanhador Só, que já tinham uma base de fãs considerável, se mostrava extremamente viável. Pela possibilidade de um contato mais próximo e íntimo como o artista/banda, o público geralmente está disposto a pagar um pouco mais pelo ingresso, o que viabiliza a apresentação para os artistas e para os produtores locais. Essa é uma ideia que à época eu sabia que já era colocada em prática no circuito independente de música dos Estados Unidos, mas que foi bem bacana ter tido a experiência de presenciar na minha cidade.

A nova sede do DoSol coloca essa experiência de apresentações para pequenas audiências - a casa suporta 60 pessoas - em outro patamar, ao inaugurar uma sala confortável, bem localizada e, mais importante, com uma sonorização impecável.

Eu acompanho atentamente as ações do DoSol, seja como artista ou como público, desde as primeiras iniciativas do então selo, e comemoro as conquistas e boas ideias de Ana e Foca. A quantidade de ações e programações relevantes que a cidade deve a eles nesses 20 anos de atuação é enorme. Sempre fico admirado como além da quantidade de iniciativas, os dois parecem ter controle de cada etapa da gestão dos projetos que põem na rua. Mais recentemente venho observando uma preocupação mais explícita com o léxico em torno das ações que desenvolvem. Na divulgação do último Festival DoSol vi repetidas vezes a menção à preocupação do festival com a memória, o que se refletiu na escalação de nomes como João Donato e Kátia de França para a programação de 2022. De um tempo para cá, seja em entrevistas, em postagens para redes sociais ou nos vídeos gravados para o impressionate DoSol TV, vi muitas vezes Foca utilizar a expressão “fã de música” para se referir ao público das iniciativas do DoSol. Consigo perceber intencionalidade no uso de uma expressão como essa, que na minha ótica passa pela tentativa de se reforçar o senso de comunidade entre o público interessado nas iniciativas do combo cultural.

A impressão que fica dessa minha primeira ida enquanto público à nova sede cultural é de que o espaço foi formatado para servir a fãs de música. O horário em que os shows por lá têm iniciado (por volta das 20h), a duração (cerca de 1h) faz das apresentações que têm acontecido lá muito mais oportunidades para fruição de música do que propriamente uma balada ou programação noturna aleatória.

No dia 27 de janeiro, sexta-feira, o SeuZé também vai se apresentar por lá. Os ingressos estão à venda aqui. Bora?

Mais ouvidas em 2022


Estatísticas geradas pelo rewind.musicorumapp.com, a partir de dados do [Last.fm]

Uma dos virais de Instagram de que mais gosto é quando todos passam a postar a suas estatísticas de músicas ouvidas geradas pelo Spotify, Apple Music e afins. Acontece que no afã de ter engajamento antes das festas de fim de ano, esses serviços costumam limitar os dados anuais até fins de novembro. Para pessoas que como eu vêem diversão e têm uma pequena obsessão com a precisão desses números, esse limite incomoda.

Desde pelo menos 2020 voltei a usar mais assiduamente o saudoso Last.fm e tenho me divertido bastante explorando a quantidade de dados que o serviço gera. E o mais legal: não apenas a cada dezembro, mas ao longo de cada ano é possível ter acesso a estatísticas parciais do que se ouviu. Abaixo um resumo das minhas estatísticas para 2022.


Alguns álbuns que aparecem como descobertos em 2022, na verdade já tinham sido ouvidos em anos anteriores, mas à época eu não usava o Last.fm e os plays não foram enviados. Foi o caso do disco dos Bonnies

Resumindo as estatísticas: como em 2021 e 2020, Jorge Drexler esteve sempre presente nas minhas audições. Tinta Y Tiempo foi realmente o meu álbum favorito de 2022. As gratas surpresas foram Bala Desejo - cujos integrantes eu já acompanhava em seus outros projetos - e Moons. Algumas entradas que aparecem nos meus rankings são meio que ossos do ofício. Foi o caso de Shiny Happy People, do REM, que eu ouvi bastante pois a música entrou no repertório da Banda Café. Fiquei obcecado por “Água”, de Djavan, após ouví-la numa versão de Mônica Salmaso e Vanessa Moreno. Linda canção, que este que escreve ainda não foi capaz de executar bem ao violão.

Tem sido bacana brincar com essas nerdices sobre os meus hábitos de escuta musical. Mais para a frente pretendo escrever um post em que explicarei quais aplicativos, configurações e equipamentos eu utilizo para ouvir música.


Desde 2016 venho listando aqui no blog as minhas estatísticas de músicas e discos ouvidos. Os anos anteriores ficaram assim: 2021, 2020, 2019, 2018, 2017 e 2016 e 2004.

Todos as estatísticas anuais estão reunidas aqui.

Livros lidos em 2022


Livros lidos em 2022.

Mais uma vez Haruki Murakami integrou a minha lista de lidos. 2022 foi o ano em que descobri Alberto Mangel e a sua escrita envolvente sobre livros e literatura. Também enveredei por algumas leituras de obras de críticos de música como Luiz Felipe Carneiro e Ricardo Alexandre, descobri a obra do chileno Alejandro Zambra e li o meu primeiro Philip Roth, além do primeiro não-ficção de Paul Auster.

Mantendo a tradição, segue a relação de livros lidos ao longo do ano, com alguns comentários sobre os títulos que mais me chamaram a atenção:

A Marca Humana
Philip Roth

Minha primeira experiência com Philip Roth. Lançado em 2000, o livro do autor parecia antecipar reflexões sobre o que hoje a gente chama de cultura de cancelamento e colorismo. Outro aspecto latente em toda a obra é a questão das identidades fragmentadas, problematizada na trajetória do protagonista Coleman Silk.

A Invenção da Solidão
Paul Auster

Aqui Paul Auster reflete sobre a sua relação com o pai ao longo dos tempos, logo após a morte deste e ao se ver precisando lidar com as lembranças materiais e memórias afetivas que surgiam à medida que explorava o apartamento do pai, agora desocupado.

Encaixotando minha biblioteca
Alberto Manguel

Conheci esse livro através de indicação na newsletter de Gaía Passarelli. Na obra, Alberto Manguel faz uma série de reflexões sobre livros, literatura e crítica literária, enquanto tinha que lidar com o encaixotamento da sua volumosa biblioteca, ao se ver na situação de precisar se mudar de uma ampla casa no interior da França, para Nova York.

Com Borges
Alberto Manguel

Borges perdeu a visão aos 55 anos, em consequência de uma condição genética. Em razão disso, passou a só ter acesso ao conteúdo de livros através de amigos com quem contava como leitores. Alberto Manguel foi um deles e esse pequeno livro é um delicioso relato do período em que Manguel conviveu com o autor de O Aleph.

Four Thousand Weeks: Time Management for Mortals
Oliver Burkeman

Há pelo menos 10 anos venho me interessando muito sobre discussões a respeito de produtividade e o seu entorno, de aplicativos para gerenciamento de tarefas a abordagens como o GTD. Após um aumento considerável em meus níveis de ansiedade, problematizado em sessões de terapia e durante a leitura de Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han, passei a ter um entendimento mais cético em relação a essa busca por produtividade. O livro de Oliver Burkeman traz reflexões inspiradoras e convincentes sobre o tema.

Lado C: a trajetória musical de Caetano Veloso até a reinvenção com a Banda Cê
Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes

No piloto do excelente podcast Discoteca Básica, Ricardo Alexandre sugere alguns trabalhos de jornalismo musical a se seguir. Dentre essas sugestões está o canal Alta Fidelidade, no Youtube, de Luiz Felipe Carneiro, autor do livro.

A obra foca no período em que Caetano trabalhou com a bandaCê, no Cê, Zie & Zie e Abraçaço, mas também aborda a experiência do compositor com outras bandas como a Black Rio e a Outra Banda da Terra.

Em relação à trilogia lançada entre 2006 e 2012, fica a constatação da minha caretice e ignorância no momento em que ouvi os dois primeiros discos. Ouvi bem pouco o Zie & Zie e gostei de imediato dos outros dois, apesar de ter recebido com estranheza a crueza e minimalismo dos arranjos de Cê. À época eu interpretava aquela proposta estética mais como limitação dos músicos que acompanhavam Caetano, do que uma escolha intencional e calculada. O cuidado que o livro teve em apresentar as trajetórias individuais dos integrantes da bandaCê trouxeram um contexto que me permitiu compreender melhor aqueles trabalhos.

Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar: 50 causos e memórias do rock brasileiro
Ricardo Alexandre

Livro delicioso de Ricardo Alexandre, do já mencionado Discoteca Básica. Aqui o autor faz um relato bastante pessoal da sua trajetória enquanto crítico musical de veículos como a Bizz e Estadão e de como a sua própria carreira acompanhou as flutuações da indústria fonográfica entre o começo dos anos 1990 e o final da primeira década dos anos 2000. Também vale por várias histórias de bastidores de bandas como Skank, O Rappa, Los Hermanos, Pato Fu, Raimundos e várias outras.

Caçando Carneiros
Haruki Murakami

Após o anoitecer
Haruki Murakami

Antropoceno: notas sobre a vida na Terra
John Green

Falso Espelho
Jia Tolentino

Cidade Aberta
Teju Cole

O Efeito Rosie
Grame Simsion

Bonsai
Alejandro Zambra

A Vida Privada das Árvores
Alejandro Zambra


Desde 2016 venho listando as minhas leituras anuais. Veja que livros foram lidos por aqui em anos anteriores: 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016

Todos esses compilados anuais estão reunidos aqui.

Diário de corrida - Dia 01

Flagrado por Marieta, irmã, ao esbanjar classe e vitalidade na Praia de Tabatinga

Dentre as atividades físicas que já tentei praticar mais assiduamente ao longo do tempo, a corrida certamente é aquela em que mais insisti. Pelo menos desde 2010 tenho algumas iniciativas espaçadas e algum tempo depois devolvo os tênis ao armário e vou procurar algo me premie mais rapidamente com dopamina.

Essa é uma questão que já significou um tabu difícil de lidar por esse que escreve. A falta de constância na corrida e os sucessivos reinícios nessa prática esportiva chegou inclusive a reforçar em mim a identidade de alguém que não finaliza os projetos que inicia ou que é incapaz de praticar uma esporte, que não seja futebol, por muito tempo. Vez ou outra, inclusive, foi questão que levei para a terapia.

Uma das estratégias que lancei mão na tentativa de fazer da corrida um hábito, foi escrever sobre em outras encarnações desse blog. A ideia era tentar extrair compromisso ao publicizar as minhas intenções de atleta. Não vingou também.

Acontece que a terapia funcionou e não me frusto mais com possíveis (e prováveis) inconstâncias na minha carreira de corredor. Nesse início de 2023, mais uma vez passando os primeiros dias anos do ano na Praia de Tabatinga, trouxe roupas e tênis de corrida para me mexer um pouco e tentar minimizar os efeitos em meu corpo de pelo menos dois anos de uma grande negligência com a minha saúde, baseada em sedentarismo e péssimos hábitos alimentares. No meio da sessão de hoje pensei que seria uma boa escrever sobre o processo aqui. Dessa vez não mais buscando o peso de tornar pública a minha iniciativa, mas pelo simples fato de registrar para mim mesmo esse processo, os anseios e as pequenas vitórias. Sem cobrança.

A ideia é escrever sobre sessões de corridas aleatórias, trazendo fotos ou vídeos dos lugares em que estive, além de trazer algumas métricas geradas pelos aplicativos que uso para organizar a minha prática.

Eis os dados de hoje.


Tela do programa para 5k do app Get Running

Estou seguindo o programa do app GetRunning, que baixei quando comprei o meu primeiro iPhone, no final de 2010. Ele propõe o condicionamento para 5km de corrida ao longo de 9 semanas. Como eu já tinha noção prévia, comecei pela semana 3 e pretendo continuar nessa sequência até estar confortável para avançar à próxima.


Para registrar as corridas, importo as informações do GetRunning no RunKeeper. Dessa vez estou evitando o fator social do Strava.

Filmes vistos em 2022


Montagem automática gerada pelo Letterboxd com os pôsteres de todos os filmes que assisti em 2022

Desde 2016 passei a registrar os filmes que assisto. Foi quando comecei a utilizar o Letterboxd, uma rede social/plataforma voltada para cinema. Além do fator social, de poder acompanhar o que as pessoas que você segue têm assistido e que impressões têm postado, o Letterboxd tem um sistema de estatísticas fantástico que gera dados a partir das películas que você registra por lá.

No meu year in review de 2022, a plataforma me avisa que assisti 50 filmes ao todo.

Foi um ano em que me dediquei à filmografia de Hyusuke Hamaguchi, do qual assisti os excelentes Asako I & II, Roda da Fortuna, e Drive My Car, este último baseado no excelente e homônimo conto de Haruki Murakami, que eu já havia lido.

Meio que por acaso, explorando o acervo do HBO Max, acabei chegando na já clássica trilogia de Richard Linklater, composta por Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia Noite. Fazia tempo que eu não me ligava a uma sequência de filmes como o fiz com aqueles protagonizados por Julie Delpy e Ethan Hawke. Até então, Linklater já tinha me marcado com Boyhood, filme que me impactou bastante à época em que foi lançado.

Seguem abaixo algumas estatísticas geradas pelo Letterboxd para os filmes que assisti ao longo do ano.


Resumo 2022


Distribuição anual e semanal de filmes assistidos


Primeiro e último filmes assistidos em 2022


Filmes assistidos por país


Gêneros, países e idiomas


Diretores mais assistidos em 2022


Atores e atrizes mais assistidos em 2022


Desde 2016 venho reunindo aqui no blog as estatísticas que o Letterboxd gera a cada ano. Veja como foi nos anos anteriores: 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016.

Todos esses compilados anuais estão reunidos aqui.