Steam Deck e o paradoxo da escolha

Ontem comprei um Steam Deck.

Após alguns meses de acompanhamento discreto do mercado de usados e de pesquisas sobre características e funcionalidades do portátil, dei o passo à frente após encontrar um que estava bem conservado e num preço atrativo.

Como normalmente acontece quando compro um novo gadget, estou no modo hiperfoco. Já não consigo mensurar quantos vídeos, textos e discussões no Reddit eu já consumi entre ontem e hoje.

A minha intenção com o Steam Deck é jogar muita coisa de PC que deixei passar ao longo desses anos, jogos de Playstation como Spiderman, Uncharted Lost Legacy, Last of Us 2, Days of Gone e God of War. Além de experimentar, num portátil, os jogos que tenho acesso como assinante do GamePass.

Ouvindo um episódio do Into The Aether, de setembro de 2022, em que Brendon Bigley e Stephen Hilger comentaram as suas primeiras impressões sobre o portátil da Valve, me senti representado quando Brendon afirmou que estava lutando contra a tentação de moddar imediatamente o novo console — o Steam Deck funciona muito bem como máquina de emulação, rodando desde jogos de consoles mais antigos como o Nintendo, Super Nintendo e Playstation, e até mais recentes como o Switch —, e que tinha feito uma promessa diante do espelho de, nas duas primeiras semanas, experimentar o SD exclusivamente com os jogos lançados oficialmente para ele.

Esse é um dilema que tenho enfrentado, pois sou adepto da ideia de que fazer jogos funcionarem via emulação é tão divertido quanto jogá-los. Nos últimos anos passei por processos semelhantes, seja montando uma máquina de emulação num Raspberry Pi ou desbloqueando consoles como o Wii U e o 3DS. Ver tudo funcionando após seguir tutoriais por algumas horas traz alguma injeção de dopamina momentânea.

Mas o fato é que quanto mais consoles e jogos tenho à disposição, mais o paradoxo da escolha me afeta e menos coisas jogo.

Enquanto tenho sérias dúvidas se resistirei à tentação de moddar o brinquedo novo, pretendo inaugurá-lo com Dave The Diver e The Stanley Parable: Ultra Deluxe, quie já estavam no meu radar há algum tempo.

IAs, fascistas, cores e sinais de pontuação

Coincidência temática nos dois textos que apareceram agora no agregador de feeds RSS que uso.

Primeiro Manuel Moreale comentando uma postagem sobre uma das marcas de textos produzidos por IAs ser o uso exagerado de travessão e o receio da escritora de os seus textos serem confundidos como escritos por inteligência artificial.

No you can’t have them. Yes, we can still use em dashes. And no, I’m not going to stop using them because fucking chatgpt is abusing them. What if they tweak the instructions next week and tell it to use more full stops or commas? What are we gonna do then? Stop using those as well? Hell no. I’ll keep writing however I want, and if someone decides to stop reading what I write because they suspect it’s AI-generated because I use too many em dashes, or parentheses, or any other punctuation or word or whatever, well, good riddance. I’m not gonna miss you.

Na sequência, Marco Arment refletindo sobre a cor laranja do recém-anunciado novo modelo do iPhone Pro e a sua associação quase automática com Trump, a quem Tim Cook vem apoiando publicamente a exemplo de outros CEOs de big techs.

I’ve seen this theory floated a few times — but no.

  1. With the timescale of iPhone-production planning, these colors were probably selected before the 2024 US presidential election.

  2. Trump would hate any association with orange. That’s something his haters say, not him or his fans. (Gold or red would appeal to him more.)

  3. Don’t let him own this color association! Orange was cool long before these assholes were alive, and it’ll be cool long after they’re dead.

Porto, Nintendo e futebol

Escrevo do Porto, em Portugal. Cheguei na tarde de hoje para uma viagem em família de duas semanas entre esta cidade, Lisboa e Sevilha.

Não me orgulho do que vou admitir agora: a primeira coisa que fizemos na cidade após o checkin em nossa hospedagem foi uma ida a um shopping, mais especificamente o Alameda.

O motivo desse impulso consumista é que, sabendo previamente da viagem, comprei um Nintendo Switch 2 na pré-venda da FNAC Portugal. Esta compra antecipada tem como particularidade o prazo de 30 dias para a retirada da encomenda. Após isso o produto volta para o estoque e é feito o ressarcimento. E era justamente hoje que esse prazo se encerraria. Sendo essa uma compra que eu faria de toda forma no Brasil, corri para não perder a isenção de impostos e o preço consideravelmente menor praticado deste lado do Atlântico.

Uma grata supresa desse deslocamento foi descobrir que o Estádio do Dragão, do Porto FC, se localiza na mesma avenida em que o shopping está. Quando em viagem, costumo me interessar por assistir alguma partida das equipes locais, conhecer estádios e outros espaços alusivos ao futebol. Com os times do ludopédio português em pré-temporada, poder ver o estádio, ainda que do lado de fora, já teve algum valor para mim. Desde que passamos a ter TV à cabo na casa dos meus pais, no fim dos anos 1990, fui público ao vivo da exibição de campeonatos europeus como a Champions League, que eventualmente teve partidas acontecendo no estádio que vi hoje. Os pontos de vista que vêm das transmissões de TV de jogos realizados nessa cancha me deram a impressão de que ele fica mais afastado da aglomeração urbana. Foi revelador perceber o quão imbricado na cidade o estádio está.


Na realidade o motivo desse texto é uma queixa no estilo white people problem.

Na tentativa de configurar o videogame, me dei conta como esse processo parece desnecessariamente complicado, sobretudo para quem já tinha o primeiro Switch, o meu caso.

Para que eu tenha acesso à minha biblioteca de jogos digitais sem correr o risco de perder saves e outras configurações, seria necessário estar com o console antigo. Algo inadmissível em tempos de saves na nuvem e considerando como outras empresas lidam com essas configurações. Quando configurei o meu Xbox Series S, em outubro de 2023, bastou que eu fizesse login na minha conta da Microsoft e todos os meus jogos, saves e configurações já estavam prontos.


Estou pensando em manter um diário de viagem ao longos desses dias aqui na Europa, nos moldes do que fiz durante a minha estada na Colômbia, no ano passado. Vamos ver como estará a disposição a cada dia.

Ansiedade inofensiva

Uma das coisas que me fazem falta diante da baixa frequência de apresentações do SeuZé é uma ansiedade controlada/sensação diferente que costumo sentir em dias de show, sobretudo em dias de sábado. A iminência do show traz uma percepção diferente sobre o dia. É um certo estado de suspensão/marasmo em que as coisas ao redor parecem mais leves e desimportantes, sendo meras coadjuvantes para o momento mais importante do dia, mais tarde, quando chega a hora de subir ao palco. Lembro de uma vez em que Anderson Foca se referiu aos dias de shows com as suas bandas como dias sagrados. Gosto dessa definição.

Escrevo sobre isso porque justamente hoje tenho experimentado essas sensações, mas com a Banda Café. Daqui a uma hora e meia faremos o nosso Especial Beatles, no Agaricus, em Petrópolis. Desde que acordei venho pensando sobre o show que faremos mais tarde e projetando como será a noite. Acolhendo e tentando entender esse sentimento, penso que uma definição possível seria a de ansiedade inofensiva.

Essas sensações não costumam vir nos dias de apresentações da Banda Café. Acredito que isso se explica pelo fato de termos nos apresentado semanalmente de maneira quase ininterrupta ao longo de 20 anos de carreira. Penso que essa recorrência de apresentações dá um caráter de ofício à música que fazemos. Aliado a isso, há também o fato de o tipo de apresentação que fazemos na maior parte das vezes se situar num limbo entre show e música ao vivo. Ainda que a apresentação de hoje vá acontecer num restaurante e tenhamos que tocar de uma forma que o público presente possa conversar enquanto tocamos, a participação da Banda Café foi divulgada mais como show. Também acho que pesa bastante o show ser o “Especial Beatles”, que fizemos poucas vezes como um momento específico, a despeito de termos várias músicas do quarteto mais famoso de Liverpool diluídas no repertório das nossas apresentações mais corriqueiras.

Por mais dias de ansiedade inofensiva.

Indiana Jones e o Grande Círculo zerado. Pouco mais de 35h de gameplay.

Filmes vistos em 2024

Montagem automática gerada pelo Letterboxd com os pôsteres de todos os filmes que assisti em 2024

Em 2016 passei a registrar os filmes que assisto. Foi quando comecei a utilizar o Letterboxd, uma rede social/plataforma voltada para cinema. Além do fator social, de poder acompanhar o que as pessoas que você segue têm assistido e que impressões têm postado, o Letterboxd tem um sistema de estatísticas fantástico que gera dados a partir das películas que você registra por lá.

No meu year in review de 2024, a plataforma me avisa que assisti 49 filmes ao todo.

Foi um ano em que me voltei à filmografia de Asghar Farhadi, de quem assisti a O Passado, O Herói e Todos Já Sabem.

Seguem abaixo algumas estatísticas geradas pelo Letterboxd para os filmes que assisti ao longo do ano. Resumo 2024


Distribuição anual e semanal de filmes assistidos


Primeiro e último filmes assistidos em 2024

Filmes assistidos por país


Gêneros, países e idiomas


Diretores mais assistidos em 2024


Atores e artrizes mais assistidos em 2024


Desde 2016 venho reunindo aqui no blog as estatísticas que o Letterboxd gera a cada ano. Veja como foi nos anos anteriores: 2023, 2022, 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016.

Todos esses compilados anuais estão reunidos aqui.

Livros lidos em 2024

Livros lidos em 2024.

2024 foi o ano em que comecei a preencher um vazio importante no meu repertório de leitor: Jorge Amado. Saí extasiado após “Os Velhos Marinheiros ou o Capitão-de-Longo-Curso”. Também voltei a Milan Kundera após uns bons anos e continuei explorando o universo de Sally Rooney com “Conversas Entre Amigos” e “Belo Mundo, Onde Você Está?

Mantendo a tradição, segue a relação de livros lidos ao longo do ano, essa vez sem outros comentários além dos que fiz à medida que os lia:

Cozinha Confidencial: Aventuras no Submundo da Restauração
Anthony Bourdain

Os Velhos Marinheiros ou o Capitão-de-longo-curso
Haruki Murakami

Woody Allen: a autobiografia
Woody Allen

Primeira pessoa do singular
Haruki Murakami

As Pequenas Virtudes
Natalia Ginzburg

Pastotal Americana
Philip Roth

A Festa da Insignificância
Milan Kundera

A Morte e a morte de Quincas Berro D’ Água
Jorge Amado

Conversas entre amigos   Sally Rooney

Belo mundo, onde você está
Sally Rooney

Pequena Coreografia do Adeus
Aline Bei

Ainda Estou Aqui
Marcelo Rubens Paiva

Literatura infantil: Cartas ao filho
Alejandro Zambra

Feliz Ano Velho   Marcelo Rubens Paiva

O Velho e o Mar   Ernest Hemingway

Viagem   Graciliano Ramos

Caderno de Faróis   Jazmina Barrera

Cem Anos de Anos de Solidão
Gabriel García Márquez


Desde 2016 venho listando as minhas leituras anuais. Veja que livros foram lidos por aqui em anos anteriores: 2023, 2022, 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016.

Todos esses compilados anuais estão reunidos aqui.

Mais ouvidas em 2024

Estatísticas geradas pelo rewind.musicorumapp.com a partir de dados do Last.fm

Mais um ano em que Jorge Drexler e a trilha de The Eddy aparecem entre os mais ouvidos do ano. Entre as boas descobertas de 2024 estiveram o Mil Coisas Invisíveis, de Tim Bernardes, e o Pique, de Dora Morelenbaum, cujo show assisti no último dezembro, na excelente sala da Sede Cultural DoSol.

Fiquei supreso com a ausência das escolhas de Nina, que incluíram Taylor Swift e Bruno Mars, por exemplo, e que em alguns casos eu apreciei de verdade. Provavelmente se diluíram pelo fato de as obsessões da filha ainda não estarem no nível das do pai.

Apesar de interagir pouco nas redes sociais, gosto de acompanhar em silêncio alguns virais que revelam alguns dos hábitos de pessoas que sigo e por quem me interesso. Exemplo disso são as retrospectivas musicais das plataformas de streaming, que acontecem anualmente, no final de novembro.

Segue o já tradicional resumo do que ouvi no ano passado:


Colagem com a capa dos 100 discos mais ouvidos em 2024


Desde 2016 venho listando aqui no blog as minhas estatísticas de músicas e discos ouvidos. Os anos anteriores ficaram assim: 2023, 2022, 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016

Todos as estatísticas anuais estão reunidas aqui

Pílulas diárias de Saramago e Cortázar

Abro o meu Goodreads para marcar como lido um livro que acabei de terminar e me deparo com a lista currently reading. Vejo que lá estão alguns títulos cuja leitura iniciei há bastante tempo e com os quais não tenho contato há alguns bons meses. É o caso de O Caderno, de Saramago, e do primeiro volume da coletânea Todos os Contos, de Cortázar.

O primeiro reúne textos que o autor português publicou entre 2008 e 2009, no blog em que mantinha àquela época. O segundo tem um título autoexplicativo, mas com a particularidade de cada conto, com poucas exceções, se encerrar em duas ou três laudas. Algo que os dois títulos têm em comum é reunirem textos curtos, que demandam pouco fôlego para serem lidos individualmente. Penso que esse é exato o motivo de eles estarem tanto tempo como inacabados entre as minhas leituras.

De alguma forma, esse tipo de escrita mais curta, de ensaios e contos menores, ou mesmo de textos em pegada de diário, é algo que eu tenho consumido bastante na web, em vários blogs que acompanho. Além disso, é como os livros com textos que exigem maior fôlego estivessem engolindo aqueles com escritos mais contidos. Se passo alguns dias sem retornar aos escritos mais contidos, o texto mais longo da vez monopoliza o meu tempo e me vejo sem retornar àquelas leituras já iniciadas.

Decidi ontem que vou adotar um método na tentativa de lidar melhor com esses textos de extensões distintas.

A ideia é me auto impor o limite de ler somente um texto por dia de cada um desses livros - o de Saramago e o de Cortázar - aceitando a ideia de que passarei perto de um ano convivendo cotidianamente com cada uma das obras, mas também garantindo o espaço no meu dia-a-dia para as leituras que demandam maior compromisso diário. Vejo como uma forma, também, de trabalhar a autodisciplina, visto que como me ocorreu hoje mais, cedo, quando dei o pontapé neste experimento, certamente serão várias as situações em que me verei no ímpeto de querer ler um ou dois textos a mais.

Entrevista para o "Isso é História"

Após mais de 14 anos após defender a minha dissertação, nessa semana tirei a poeira do trabalho. Recebi um convite do professor João Maria Fraga para uma entrevista sobre a minha pesquisa. Ele tem conduzido o Isso é História, programa em que conversa com historiadores sobre os seus trabalhos de mestrado e doutorado.

Foi bom voltar a ter contato com o meu texto após tanto tempo.

A entrevista está no YouTube. Compartilho abaixo.

A ansiedade esteve forte por aqui ao longo das últimas semanas e levou embora a concentração para leituras de maior fôlego. Mas é justo a literatura uma das principais ferramentas que me ajudam a estar mais tranquilo. Eis que voltei a Sally Rooney, que já tinha me feito um bem danado com “Pessoas Normais”. “Conversas entre amigos” tem a densidade ideal que consigo suportar nesses tempos de mente acelerada e dificuldade para estar no presente.

Cheguei atrasado ao 5 a Seco. Vi o show no Coala Festival pela tevê e que banda!

Star Wars Jedi: Fallen Order - primeiras impressões

Nesse feriado de Dia do Trabalho comecei a jogar Star Wars Jedi: Fallen Order. Há muito tempo eu não adentrava a madrugada jogando videogames, mas esse jogo me fisgou.

Os meus planos para o feriado incluíam continuar a campanha de Fallout 4 que iniciei após me empolgar com a série do Amazon Prime. Mas após Star Wars Jedi: Survivor entrar no catálogo do Game Pass decidi dar uma chance a Fallen Order.

A minha relação com Star Wars é tardia. Assisti aos filmes da primeira trilogia nas reprises que a Globo fez ao longo dos anos 1990 e à época não dei muita importância. Quando as prequelas começaram a sair, no início dos anos 2000, voltei aos filmes clássicos e passei a me interessar mais, apesar de praticamente não ter tido contato com o universo expandido de animações, livros e videogames.

Mas a realidade é que, com exceção dos episódios IV, VIII e de Rogue One, o meu interesse sempre foi mais pelo entorno de Star Wars do que propriamente pelas histórias contadas em cada filme. Gosto especialmente da ambientação especial, da geografia e da diversidade de planetas e espécies de personagens.

Foi com esses antecedentes que cheguei a Fallen Order.

Em relação à jogabilidade, o jogo não esconde de onde parte nos seus principais aspectos: puzzles que remetem a Breath of The Wild; combate desafiador soulslike; exploração com muito parkour - no estilo de Uncharted - e com possibilidade de desbloqueio de aréas previamente inacessíveis, seguindo a cartilha metroidvania.

Eu tinha ouvido falar que o jogo podia intimidar a quem não tem fluência nos combates estilo Souls, e de fato me assustei um pouco com a dificuldade de alguns dos primeiros encontros. Contudo, à medida que novas habilidades vão sendo desbloqueadas, via pontos de experiência ou através do reencontro do personagem com a força, os embates vão se tornando mais acessíveis para jogadores não tão habilidosos quanto eu.

Ao todo, entre a madrugada de terça para quarta-feira e o fim da tarde do feriado de ontem, devo ter jogado cerca de seis horas. Isso foi suficiente para despertar em mim a vontade de passar mais tempo no universo Star Wars. Além de estar empolgado para seguir nesse Fallen Order e após isso jogar o Survivor, pensei em assistir aos primeiros filmes com Nina. Também estou considerando assistir a Clone Wars e Andor, sobre os quais já ouvi comentários positivos.

Dia 2 do #WeblogPoMo2024