Viagem Colômbia 2024 - Dia 05

Relativamente familiarizados com o Laurelles, nosso bairro, ontem foi dia de visitarmos o centro de Medellin. Saímos da nossa hospedagem com alguns pontos de interesse em mente, mas também acabamos por flanar sem muito rigor por essa região da cidade.

Pelo segundo dia seguido fizemos a maior parte dos deslocamentos mais longos através do metrô, que por aqui é de superfície e custa 3650 pesos colombianos, ou cerca de R$ 4,60 por passage, como eles chamam por aqui, diferentemente de Santiago e Buenos Aires, onde se referem a cada passagem como viaje.

Até agora tivemos a experiência de usar o metrô de Medellin em momentos com menos movimento e em outros perto dos horários de pico. Não sei se é em função de estarmos nos primeiros dias do ano, período de férias escolares e em que provavelmente muitos medellinenses devam sair da cidade, ou uma situação exclusiva das linhas A e B que temos usado, mas comparado com outras cidades que têm estrutura de trens urbanos que já visitei, achei o movimento deste meio de transporte relativamente tranquilo por aqui. Do apartamento onde estamos hospedados até uma das duas estações mais próximas - floresta e estádio - temos levado cerca de 25 minutos de caminhada. A Estação Estádio, como o nome sugere, leva ao Estadio Atanasio Girardot, o maior da cidade, onde jogam os dois clubes grandes daqui: o Atlético Nacional - aquele mesmo que jogaria a final da Sulamericana com a Chapecoense, quando o time brasileiro sofreu o acidente aéreo - e o Independiente. Pena que o futebol aqui na Colômbia esteja em recesso e eu não possa assistir a uma partida estando tão próximo a esta cancha, mas vou tentar fazer pelo menos a visita guiada ao museu.

Como eu vinha falando antes, o dia de ontem foi dedicado a explorar pontos de interesse do centro.

Começamos no Parque de los Pies Descalzos, um equipamento construído com o objetivo de servir como espaço destinado a momentos de desconexão para os funcionários públicos e outros trabalhadores da região nos intervalos dos seus trabalhos. Lá as pessoas são convidadas a ficarem literalmente descalças e caminharem pelo parque cujo chão é composto por pequenas pedras que, hora massageiam os pés, hora causam pequenas dores e, pouco além, molhar os membros inferiores na fonte que jorra direto do chão. Algumas pessoas, especialmente crianças - e dentre essas, Nina - vão além e molham todo o corpo.


Fachada externa da Biblioteca EPM

Continuando caminhando pelo Centro em direção ao Museu Antióquia, acabamos por parar na Biblioteca EPM, que naquele momento pensávamos se tratar da Espanã, a mais conhecida da cidade, mas enquanto escrevo esta postagem descubro que era uma voltada para ciências, indústria, tecnologia e meio ambiente. Explorei bem pouco o acervo, mas me chamou a atenção o quanto se trata de um espaço convidativo para quem passa pela rua e, sobretudo, como é um lugar que chama os seus usuários a permanecerem por lá. A biblioteca é repleta de sofares e cadeiras confortáveis e no tempo em que estive por lá foi possível observar vários medellinenses lendo jornais, usando as dezenas de computadores espalhados pelo prédio, ou simplesmente usando o espaço para descansar e cochilar, expandindo a noção de biblioteca para além de um repositório de livros.


Interior da biblioteca

Na sequência seguimos em direção ao Museu Antióquia e à Praça Botero. Esse caminho revelou um centro caótico com muito comércio de rua tomando as calçadas, não muito diferente das áreas centrais de muitas cidades brasileiras.

O Museu Antióquia foi uma grata surpresa desta viagem. Nas pesquisas que fiz sobre a cidade ao longo dos últimos meses, sabia que o equipamento abrigava um acervo considerável de artistas colombianos, sobretudo de Botero. Mas eu não tinha a dimensão de quanto do acervo do escultor estava exposto lá. São dezenas de pinturas, além das mais conhecidas esculturas em bronze, que estão disponíveis tanto no museu em questão, quanto na praça localizada em frente, e que leva o nome do mais notável artista plástico colombiano.


Mural pintado por Botero em 1960 para um banco de Medellin. Hoje está no Museu Antióquia.

Essa surra de Boteto causou em mim um impacto em mim como poucas vezes experimentei, me remetendo aos momentos em que vi originais de Van Gogh, no Met, no Museu d’Orsay e no MASP.

O Museu Antióquia também traz um uma série de obras mais recentes, sobretudo de fotografia, que lidam com o passado recente e doloroso da cidade e do país, marcardo pelo poder do narcotráfico, personalizado na figura de Pablo Escóbar. Nos dias anteriores, fiquei atento ao comércio de rua e a espaços de memória espalhados pela cidade como bustos e outras esculturas, para ter uma noção de como os medellinenses tem representado o legado nefasto de Escóbar e lidado com a memória em torno dele. Observei que muitas camisetas, broches e outros suvinires que costumam fisgar os turistas trazem serigrafias com retratos do traficante junto de frases de efeito como “Pláta ó Plomo".

Não sei ao certo em que nível frases como essas estavam no imaginário popular antes da série Narcos e o quanto esse fênomemo pop contribuiu para relativizar a imagem do homem mais celébre de Medellin, como parte dessa tendência de normalização de vilões que a cultura pop vem construindo ao longo das últimas décadas: de Tony Soprano a Walter White; do Coringa de Batman: a piada mortal ao John Marston de Red Dead Redemption 2.

Também fui muito impactado durante a visita ao Palácio da Cultura Rafael Uribe, que foi construído para ser sede do governo da Antióquia, província da qual Medellin é capital e que hoje funciona como uma instituição de fomento a cultura, além de um museu com exposições ecléticas de artistas colombianos, mas também com muitas alas dedicadas a explicar um pouco da própria história, bem como a da cidade.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 16º
  • Temperatura máxima: 26º
  • Passos dados: 26428
  • Distância percorrida caminhando: 5,7 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 04, dia 03, dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 04

Vista externa do Parque Explora, em Medellin

Ontem começamos o dia buscando um local para sacar alguns pesos colombianos. Por aqui estamos usando um cartão de débito da Wise, que cobra menos IOF nas transações, mas queremos ter um pouco de dinheiro em espécie para algumas situações na rua.

Saímos em busca de um caixa eletrônico do Banco de Bogotá, que o Google Maps disse estar há cerca de 20 minutos de caminhada do apartamento em que estamos. O percurso até lá revelou uma parte da cidade com ares mais comerciais do que a parte de Laurelles em que nos hospedamos. Percorremos a maior parte do caminho numa rua que reunia dezenas de lojas especializadas em acessórios para motos e ao chegar ao destino, descobrimos que o caixa eletrônico estava dentro de um pequeno shoping.

Com alguns poucos pesos nos bolsos caminhamos por cerca de 25 minutos em direção à estação de metrô onde tomaríamos um trem para os destinos programados para o dia: o Parque Explora e o Jardim Botânico, espaços separados por uma rua.

O Parque Explora é um enorme espaço interativo, nos moldes do Museu Interativo Mirador de Santiago. Ambos espaços são divulgados em blogs de viagem e outros textos pela web como boas opções para entretenimento infantil, mas nos dois casos também entreteram bastante a mim e a Márcia.


Márcia e Nina na área externa do Parque Explora

No caso do Explora, em Medellin, além das salas e exposições mais voltadas para uma ciência prática, com brinquedos e experimentos que exploram noções de física e até de subáreas como a acústica, há também estações voltadas para a música. É o caso instrumentos digitais e telas de toque que, por exemplo, apresentam conceitos de mixagem e explicam o papel que diferentes instrumentos tem numa banda.

Além disso pude conhecer exposições mais estáticas como a que apresenta a história da música gravada, passando pelos fonógrafos e gramophones no século XIX e chegando aos atuais serviços de streaming.

Outra atração com que brinquei foi um tela tátil que captura a imagem de quem está interagindo com o dispositivo e permite que a pessoa faça capas para hipotéticos álbuns de música de sua autoria. Foi quando tive a ideia de criar uma capa para um pretenso disco meu que nomeei como Medellín e que traria canções com impressões minhas sobre esses dias em que estarei pela cidade.

Após terminar a brincadeira, passei a encarar com seriedade esse projeto de começar um pequeno disco pela capa e dessacralizar a ideia de que um álbum de música precise ter uma motivação especial ou significativa. Infelizmente ainda não recebi o .jpg da capinha no email que cadastrei ao final da brincadeira. De toda forma fica o insigth para pensar em motivações menos ortodoxas como pontos de partida para futuras produções musicais minhas.


Club Colômbia, uma ótima lager que me lembrou a pernambucana Ekäut

Por lá também espaços com uma pegada de museu natural, como o lindo aquário espalhado por várias salas e o vivário que expõe dezenas de répteis e anfíbios da América Latina.

Durante praticamente todo o dia (ficamos por lá do meio da manhã até o fim da tarde) havia muitas crianças e adolescentes colombianos visitando o Parque Explora. Tive a impressão de que alguns grupos eram turistas dentro do próprio país. Pelas dimensões do equipamento cultural e dada a quantidade e qualidade das atividades disponíveis, o Parque Explora parece ser um espaço importante a ponto de por si só atrair turistas para a cidade, exercendo um papel semelhante ao que Inhotim e o Instituto Ricardo Brennand representam para os seus entornos.

É inevitável experimentar uma iniciativa desse porte e não ficar desejando que Natal e outras cidades do porte da capital potiguar pudessem dispor de estruturas semelhantes. Mas, tendo visitado algumas cidades maiores da América do Sul e mais espeficiamente do país, cada vez mais se consolida a impressão de que, na América Latina projetos da natureza do Parque Explora só parecem exequíveis do ponto de vista financeiro em cidades grandes como Medellin, São Paulo, Rio de Janeiro, ou nas capitais dos países dessa parte do continente americano.

Amanhã pretendemos visitar uma parte mais central de Medellin, onde fica o Museu da Antióquia e o Palácio da Cultura Rafael Uribe.

Algumas estatísticas do dia

  • Temperatura mínima: 20º
  • Temperatura máxima: 30º
  • Passos dados: 18457
  • Distância percorrida caminhando: 12,6 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 03, dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 03


Vista da minha janela pelos próximos cinco dias.

Escrevo já de Medellin, o nosso primeiro destino aqui na Colômbia. A chegada até aqui foi bem cansativa e envolveu um vôo de 6h entre BH e Bogotá, 4h de espera pela conexão que nos trouxe até aqui, além de uma diferença de fuso de 2h, que por menor que pareça, cobrou a conta no meio da noite.

Ainda conseguimos dar uma pequena explorada em Laurelles, bairro onde ficaremos pelos próximos 5 dias. A primeira impressão é se que parece ser relativamente movimentado para uma vizinhança predominantemente residencial, além de passar uma boa sensação de segurança. Fomos a um restaurante de massas aqui nas imediações e passamos em um supermercado também próximo.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 7º
  • Temperatura máxima: 22º
  • Passos dados: 10412
  • Distância percorrida caminhando: 6,7 km

Tentei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi nos dias anteriores: dia 02, dia 01.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 02

Acabamos reféns da chuva e da preguiça e viramos o ano no quarto de um hotel assistindo De Volta Para o Futuro III, cuja trilogia eu e Márcia revimos ao longo do último mês para apresentar a Nina.


Savassi só nossa na manhã chuvosa de 1º de janeiro de 2024.

O dia amanheceu chuvoso mais uma vez e decidimos flanar pela Savassi, bairro em que nos hospedamos quando estivemos por aqui no ano passado. Acho que já comentei aqui neste blog sobre o gosto que tenho por revisitar lugares. O desejo de conhecer novos lugares em viagens é, como era de se esperar, bem forte, mas voltar aos cantos em que já estive antes traz uma sensação de familiaridade e, ao mesmo tempo, de possibilidade de lançar novos olhares sobre o que eu já tinha visto.

Um pouco mais tarde, rumamos ao zoológico da cidade, na Pampulha, na tentativa de entreter Nina, mas logo nos primeiros minutos começou um toró gigante que, mesmo temos encontrado algumas capas de chuvas daquelas descartáveis, nos encharcado os pés, tênis e calças. No momento em que escrevo estas linhas (18h), a preocupação é se os nossos calçados secarão a tempo do nosso vôo para Bogotá, já que às 4h30 da madrugada rumaremos em direção ao aeroporto de Confins.

Sobre o zoológico, do pouco que conseguimos ver dada a correria decorrente da chuvarada, pude ver pela primeira vez uma arara azul.

Algumas estatísticas do dia:

  • Temperatura mínima: 7º
  • Temperatura máxima: 22º
  • Passos dados: 10412
  • Distância percorrida caminhando: 6,7 km

Estou tentando registrar algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público. Segue o que escrevi ontem: dia 01.

Todos esses pequenos relatos estarão reunidos nessa página.

Viagem Colômbia 2024 - Dia 01

Na sala de embarque do Aeroporto de Natal. Em breve embarcarei com Márcia e Nina rumo à Colômbia. Visitaremos Bogotá, Medellin e San André entre os dias 2 e 17 de janeiro. Antes passaremos dois dias em Belo Horizonte.

Ainda não definimos onde passaremos a virada do ano. Considerando a previsão de chuva de hoje para a capital mineira, é possível que fiquemos no quarto do hotel.


Tentarei registrar as algumas das minhas impressões sobre essa viagem à Colômbia numa espécie de diário público.

Todos esses pequenos relatos estão reunidos nessa página.

Aplicativos-padrão 2023

Recentemente vários blogs gringos que acompanho, como os de Carl Barenbrug e Manuel Moreale, tiveram posts com os aplicativos padrões dos seus escribas. Decidi entrar na brincadeira também.

  • 📧 Cliente de e-mail: Apple Mail
  • 📧 Servidor de e-mail: Google Workspace
  • 🗒 Notas: Apples Notes
  • 📝 Lista de tarefas: Things
  • 📷 Câmera: Apple Camera
  • 🏞 Gerenciamento de fotos: Apple Photos
  • 📅 Calendário: Apple Calendar
  • 💾 Armazenamento na nuvem: iCloud e One Drive
  • 🌐 RSS: NetNewsWire e Feedly
  • 📞 Contatos: Apple Contacts
  • 🌐 Navegador: Safari
  • 💬 Chat: WhatsApp e Telegram
  • 📖 Read It Later: Pocket
  • Processador de texto: Word e Google Docs
  • 💻 Planilhas: Numbers
  • 💻 Apresentações: Keynote e Canva
  • 🛒 Lista de compras: Bring!
  • 🧮 Orçamento e finanças pessoais: MoneyWiz
  • 🎧 Music: Apple Music e Marvis Pro
  • Podcasts: Overcast
  • 🔐 Gerenciamento de senhas: Apple Passwords

Zé Ibarra na Sede Cultural DoSol

fotos por Márcia Marinho

Ontem fui mais uma vez à Sede Cultural DoSol, dessa vez para assistir ao show solo de Zé Ibarra.

Toquei com a Banda Café em uma festa fechada no sábado à noite e no domingo pela manhã tive um ensaio com o SeuZé. Como resultado, passei o dia inteiro sonolento e indisposto, o que me levou a cogitar seriamente deixar de ir ao show para o qual já tinha ingressos. Enquanto hesitava, pensava que essa era uma apresentação que eu não poderia perder, visto que o artista em questão é alguém que tem um potencial enorme para virar um grande nome da música brasileira, certamente ocupando algum espaço na tradição da MPB, e essa oportunidade de vê-lo em um espaço intimista como o novo palco do DoSol, certamente vai ser difícil de se repertir novamente. Com um empurrão de Márcia, acabei indo.

Conheci Zé Ibarra através da Dônica, seu primeiro projeto, e passei a acompanhá-lo desde então, tanto no trabalho com o Bala Desejo, quanto nessa encarnação solo.

A base do repertório do show foi o disco recém-lançado, o Marquês 256, com outras releituras não contidas no álbum - e Lua Comanche, lançada com o Bala Desejo. Eu já tinha sido impactado pela técnica, tessitura e beleza do timbre vocal de Zé Ibarra, sobretudo ao assistir performances mais improvisadas em lives no Instagram, além dos próprios registros em disco pelos seus projetos, mas a impressão de ouvi-lo ao vivo, nesse formato voz em violão, foi muito mais marcante. Ibarra alia um domínio da voz e uma execução primorosa do violão como poucos o fazem na música brasileira atual. Contribuíram para isso, tanto a operação de som de Bráulio, técnico que tem viajado com o músico carioca nessa turnê, além da própria estrura de som da charmosa sala do DoSol, que mais uma vez se provou bem dimensionada e pensada para o espaço.

Quem acompanhou o Bala Desejo, projeto composto pelo próprio Ibarra, Júlia MestreDora Morelenbaum e Lucas Nunes, desde o início, ficou clara a inspiração da banda nos Doces Bárbaros. Da opção por figurinos andróginos, à apresentação despojada/acústica em forma de quarteto, muita coisa ali remetia ao grupo formado por Gal, Bethânia, Caetano e Gil no meio dos anos 1970. Essa reverência ao santíssimo quarteto baiano continua no trabalho solo de Zé, seja pela escolha do repertório de covers que, com exceção de Bethânia, contempla a todos os outros, seja quando, no show de ontem, Zé Ibarra declarou se inspirar diretamente em Gal ao lançar mão de registros agudos em seus arranjos vocais.

Mas o leque de referências do músico carioca vai bem além. Um aspecto relevante do show e também do disco de Ibarra, é o papel de apresentar a uma nova geração de ouvintes artistas sobre os quais atualmente se fala muito pouco e cujas músicas provavelmente só chegam a ouvidos um pouco mais curiosos que a média. Foi uma grata surpresa testemunhar boa parte do público presente estar com as letras de canções de canções de Paulo Diniz e Guilherme Lamonier - Vou-Me Embora e Vai Atrás da Vida que Ela te Espera - na ponta da língua. Há cerca de duas décadas os Los Hermanos fizeram algo semelhante ao resgatar e reapresentar uma parte da obra de Belchior. É um movimento que acontece na música brasileira de tempos em tempos, mas poucos artistas o fazem com tanta intencionalidade e sem fechar os olhos para os seus colegas de geração. Ao mesmo tempo em que segue esse caminho de diálogo com o passado da música brasileira, questionando e ressignificando a tradição da MPB, Zé também deixa espaço para apresentar os seus contemporâneos de composição e criação musical. Os repertórios do show e disco reservam espaço para canções de compositoras mais novas como Sofia Chablau e a já citada Dora Morenlenbau.

Valeu demais a ida ao DoSol para testemunhar pessoalmente esse show de início de carreira de um nome com potencial para alcançar patamares de mais prestígio e reconhecimento na música brasileira.

No ano passado escrevi sobre o papel do bom gosto no bloqueio criativo que acomete compositores, escritores e outros. Estar diante de um artista como Zé Ibarra, certamente é um gatilho para a sensação de “para quê continuar compondo e cantando se tudo o que pode ser criado já está ali muito mais bem feito do que eu posso fazer?” A resposta a essa pergunta já tinha sido dada naquele mesmo dia, mais cedo.

No ensaio mencionado no início do texto o SeuZé voltou a trabalhar, em estúdido, em novas composições após cerca de 10 anos e foi uma sensação muito boa ver as canções tomando forma e fazerem ressurgir aquele sentimento de que estamos trabalhando em algo que pode significar algo para quem nos ouve, bem como voltar a colocar o trabalho da banda - e os nossos individuais enquanto músicos e compositores - em movimento. Ainda vejo sentido em continuar compondo, gravando e fazendo shows.

Pequenas mudanças

Recentemente tenho feito algumas pequenas mudanças e implementações aqui no blog. Foi o caso do Blogroll, sobre o qual falei na última postagem. O botão para adicionar comentário foi deslocado para o final dos posts. Também venho tentando fazer com que pequenos trechos de músicas e podcasts oriundos do Spotify, que usei em algumas postagens, sejam exibidos corretamente na versão mobile do site.

Quando esse Música em Versão Beta é acessado a partir de um computador, o player com o clipe de áudio aparece da maneira correta:

Mas quando o acesso é a partir de um telefone celular, o espaço quue deveria exibir o tocador fica vazio:

Essas últimas intervenções que fiz por aqui me lembraram como ir realizando pequenas mudanças, aos poucos, por mais óbvio que pareça, é algo muito mais sustentável do que grandes alterações, que acabam impedindo que a principal razão de esse blog existir - ter textos publicados - aconteça.

Desde que voltei a me interessar por discussões sobre web aberta, IndieWeb e passei a acompanhar muitos blogs pessoais, um dos tópicos que mais gosto de acompanhar nos sites alheios é sobre como esses outros escritores pensam e estruturam os seus próprios sites. Também tenho gostado bastante de acompanhar discussões sobre o tímido retorno aos sites pessoais nesse contexto de fim das redes sociais(https://www.theatlantic.com/technology/archive/2022/11/twitter-facebook-social-media-decline/672074).

Aqui uma excelente reflexão de Matthias Ott, um desenvolvedor alemão a cujo site cheguei através dos buracos de minhoca que os só blogrolls e links para outras postagens, típicos dos blogs pessoais, possibilitam.

Acredito que refletir um pouco sobre os caminhos temáticos e estruturais que o meu site pessoal segue e virá a seguir, é algo que pretendo fazer mais frequentemente por aqui.

Blogroll

Criei uma nova sessão por aqui, o Blogroll, que era como nos referíamos, no início dos anos 2000, à listagem de sites recomendados por cada blogueiro.

Começo com alguns endereços que tenho lido mais frequentemente nos últimos anos e meses, mas pretendo ir atualizando à medida que outros forem entrando no meu radar. E essa renovação dos links deve realmente acontecer, visto que ao acessar um novo blog, uma nas primeiras coisas que faço é procurar a recomendação de outros sites pessoais.

O Blogroll desse Música em Versão Beta está acessível através do menu localizado no topo do site ou diretamente por aqui.

Procrastinação e como falho miseravelmente nos hacks mentais

Lendo essa postagem recente de Federico Viticci, do MacStories, me lembrei de como não consigo fazer esses hacks mentais. No post ele fala que a demanda de trabalho que tem parece grande e intimidadora, mas que após concluída a recompensa será os jogos de videogame que o esperam: Starfield e a DLC de Pokémon Scarlet.

Já tentei diversas vezes implementar essa estratégia de autorecompensa para ver se encaro mais objetivamente as demandas de trabalho diante das quais procrastino (incluindo aí me permitir separar na agenda momentos para compor sem sentimento de culpa) mas costumo antecipar o desfrute dos regalos a mim mesmo prometidos sem que a obrigação laboral tenha sido concluída.

Essa inclusive foi uma pauta frequente que debati com a minha ex-terapeuta, quando a mesma sugeria essa abordagem para lidar como a minha falta de foco resultado, provavelmente, de uma TDAH ainda não diagnosticada.

Reflito sobre isso nesse momento porque tenho lidado com uma situação semelhante. Preciso encarar duas demandas de trabalho que exigem uma dedicação maior, com etapas de pesquisa e estruturação de apresentações, mas a procastinação está forte como nunca. E as recompensas que eu tinha estabelecido para mim eram bem próximas das de Federico, incluindo o próprio Starfield e outros jogos. O que eu fiz? Assinei novamente o Game Pass para ter acesso aos videogames antes de ter concluído a minha demanda laboral. Entretanto, como geralmente acontece, o resultado é algo como uma paralisia que não me permite fazer nenhuma das coisas.

Como o prazo para uma das demandas se encerra na sexta desta semana, a saída que estou pensando é mesclar intervalos menores de recompensa, como a Técnica Pomodoro e, ao fim poder realmente escolher um jogo para explorar.

Poeta Chileno

Ontem à noite voltei à obra de Alejandro Zambra através de Poeta Chileno. Mais uma vez fisgado pelo realismo sem firulas da prosa do escritor santiaguino.

Em mais uma história ambientada em Santiago, me vi compreendendo uma série de referências a lugares, comidas e da capital do Chile, que pude experimentar nas duas vezes em que estive na cidade.

Da mesma forma, as pequenas piscadelas que Zambra dá aos leitores da sua geração (sou de 82, ele de 75), sobretudo ao citar músicas, bandas, e videogames mais universais e caros a quem cresceu nos anos 1980 e 1990 e estava minimamente atento à cultura pop daquele período, criam um vínculo que me parece bem mais natural do que em outras obras que lançam mão de referências generacionais, como Jogador Nº 1, de Ernest Cline.

Ler Alejandro Zambra mais uma vez tem feito pensar sobre um aspecto da minha produção artística que eventualmente retorna às minhas reflexões: a dualidade “local-universal".

São impressões semelhantes às que tenho tido ao imergir na obra de Haruki Murakami ao longo dos anos. Sem exceções, ao longo da sua produção de ficção, o autor japonês abusa do recurso a citações à cultura ocidental, sobretudo a música e compositores, ao passo que não abre mão de especificar detalhes, como nomes de ruas, bairros, estações de trem, modos de preparos de alimentos, específicos das cidades japonesas em que as suas histórias se desenrolam.

Em algumas composiões minhas mais recentes, venho conscientemente tentar lançar mão de referências tipicamente natalenses, como é o caso da “camisa do Alecrim” que o narrador da letra da canção Desapego menciona.

O verso mencionado começa por volta de 20s

De certa maneira, porém, me preocupo com a forma com que essas referências aparecem nas minhas músicas, de modo que possam fazer sentido para ouvintes que não compartilham das experiências de viver no lugar de onde escrevo.

Por outro lado, me interesso muito mais por essas pequenas inserções, nas minhas letras, de fragmentos da experiência do que é ser natalense, do que propriamente fazer da canção uma listagem de supostas qualidades da cidade ou do estado em que nasci e onde vivo.

Continuarei atento a como essa questão tem sido abordada na música que consumo e em outras expressões artísticas.

Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã

Recentemente assisti a Amor Platônico, na Apple TV+. A série se desenvolve a partir da amizade entre Sylvia (Rose Byrne) e Will (Seth Rogen). A despeito de diálogos previsíveis e sem muita criatividade em alguns momentos, a produção me prendeu pela forma como brinca com a expectativa em torno do imininente relacionamento amoroso entre as duas personagens principais.

Premissa semelhante aparece em Amanhã, Amanhã e Ainda Outro Amanhã (Tomorrow, Tomorrow and Tomorrow), livro de Gabrielle Zevin que terminei de ler ontem e tem me mantido extasiado. Chamo atenção para a semelhança com a premissa de Amor Platônico, mas a quebra de expectativa pelo romance que não acontece nem me parece a principal questão abordada na obra. Relacionamentos abusivos, mulher e trabalho, inclusão de pessoas com deficiência e preconceito étnico-racial são temáticas enfocadas pela autora, tendo como eixo principal uma história que gira em torno de videogames: Sam e Sadie, protagonistas da história se conhecem e tornam-se amigos a partir de uma circunstância que os leva a jogar videogames juntos em um hospital ao longo de alguns anos e, mais a frente, viram desenvolvedores dos seus próprios jogos.

Para uma geração que cresceu com videogames e computadores ao longo dos anos 1990, o livro é cheio de referências e piscadelas, mas de uma maneira mais orgânica e menos superficial do que outras obras como Jogador N°1, que também se estruturam em referências a videogames e outros elementos das cultura pop.

Grata surpresa que me fez buscar outras obras da autora: A vida do livreiro A. J. Fikry, outro título publicado por Gabrielle Zevin editado em português, já furou a fila por aqui como próximo a ser lido.

Tentando voltar à Hyrule

Em fevereiro escrevi sobre a empolgação de recomeçar a jogar The Legend of Zelda: Breath of The Wild. Eu estava recém retornando das férias e acreditava que conseguiria continuar a jogatina mesmo com a retomada da rotina de trabalho e outras ocupações. Acabou que pouco depois de publicar aquela postagem, não [retornei mais a Hyrule]. E, ainda que, obviamente, o tempo tenha se tornado mais escasso com o retorno às atividades laborais, esse não é o único motivo da minha negligência com Zelda.

Apesar de visualmente encantador e com mecânicas que me fazem querer viver no mesmo mundo que Link, o escopo do jogo é de certa forma intimidador, seja pelas dimensões do mundo aberto ou pelo próprio tamanho da campanha. O fato é que jogos que funcionam bem em sessões menores têm me seduzido mais nos últimos tempos.

Por exemplo: eu ainda não havia explorado as novas pistas que a Nintendo tem liberado aos poucos para o Mario Kart 8, e agora tenho tentado fechar todos o campeonatos com troféu de ouro em 200cc. Cada tentativa não chega a tomar 10 minutos e me parece bem mais exequível que uma sessão de Breath of The Wild.

Também tenho jogado bastante o Tetris original de Game Boy, na versão do Nintendo Switch Online, que eu já vinha explorando levemente desde o lançamento, e que tem me interessado mais desde que assisti ao filme homônimo.

O fato é que tenho negligenciado um dos apelos potenciais do Switch que é a portabilidade. De alguma maneira não tem parecido natural para mim jogar títulos de mais fôlego na forma portátil do console, resumindo essa experiência a jogos mais casuais como os já citados Mário Kart 8, Tetris e, também, Animal Crossing: New Horizons. Mas refletindo sobre isso, lembro que da primeira vez que joguei o último lançamento da franquia Legend of Zelda, revezei bastante entre jogar na TV e no modo portátil, e a experiência não foi lá tão ruim. Talvez a experiência de jogar na TV cobre um pedágio que está me afastando do jogo: ficar num ambiente mais desconfortável (no geral a sala do meu apartamento é um dos cômodos mais quentes do lar) e depender de o aparelho não estar sendo usado por Nina ou Márcia.

Na iminência do lançamento do Tears of the Kingdom me vejo querendo retornar para concluir o Breath of The Wild, para a partir daí poder me dedicar ao novo jogo. Talvez o caminho passe por priorizar o modo portátil do Nintendo Switch.

Segundas impressões sobre Halt and Catch Fire

Segunda tentativa de assistir a Hall And Catch Fire. A primeira vez foi há uns 2 ou 3 anos, quando a série estava no catálogo da HBO. À época vi apenas o episódio 1, mas não engrenei. Quando decidi retornar agora, descobri que já não está no catálogo de nenhum serviço de streaming. Recorri à locadora do Paulo Coelho e tenho assistido na TV da sala, via Plex.

Acabo de terminar o 1° episódio e dessa vez clicou pra mim. Chamou-me a atenção especialmente a direção de arte, com uma reconstrução convicente da primeira metade dos anos 1980.

Essas histórias dos bastidores do desenvolvimento da computação pessoal e da Internet comercial sempre me interessam.

A ver como vai se dar a construção do personagem Joe MacMillan, que numa aparentemente tentativa de intersecção entre Steve Jobs e Don Draper, pra mim resultou num blasé genérico.

Primeiras impressões sobre o Museu da Rampa

Meio por acaso, no último domingo fui pela primeira vez ao recém inaugurado Museu da Rampa. Após um brunch com Nina e Márcia no Pé de Cajú, íamos à Pinacoteca para ver as exposições atuais, mas lembrei da possibilidade de ir ao novo museu localizado nas Rocas e assim acabamos lá.


Área externa do Complexo Cultural Rampa

Em função do meu trabalho da formação continuada de professores de História da rede municipal de ensino, eu já estava querendo fazer uma visita ao equipamento.

A impressão geral foi positiva, mas destaco dois aspectos que me chamaram a atenção.

Primeiro, nas salas alusivas à participação de Natal na Segunda Guerra Mundial senti muita falta de mais particularidades do impacto da guerra no cotidiano da cidade. Com exceção de uma “sala do blackout”, que tenta recriar a experiência dos cortes de eletricidade como estratégia de defesa, que ocorriam em Natal à época do conflito, não há nada mais significativo a respeito dos desdobramentos para os natalenses da presença americana na cidade, durante a guerra. Além disso, há um foco muito grande nos intinerários de Roosevelt, da saída da sua comitiva dos EUA, até a chegada em Natal.

O segundo ponto diz respeito ao acervo, que se resume a dois uniformes militares e alguns poucos documentos escritos como jornais e livretos publicados na Itália à época da presença da FEB naquele país.

Também saí com a impressão de que o espaço físico do museu está superdimensionado em relação ao acervo disponível. Exemplo disso é uma sala intermediária em que está esposta uma exposição bastante genérica com a temática da paz, que se resume a cartazes com citações que passam por Bob Marley e John Lennon e chegam à Madre Tereza de Calcutá.

Espero que na permanência de um acervo limitado no museu, essa sala seja utilizada para exposições temporárias mais relevantes.

Exposição no hall de entrada


Área externa do Complexo Cultural Rampa